quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Roberto Schwarz e a mística do golpe

Num vídeo recente, entre outros intelectuais da USP, Roberto Schwarz fez uma obsservação interessante sobre o impiximã: "o impiximã tem um caráter de classe, pois se trata de uma tentativa de acabar com um experimento de melhora da vida popular. Um experimento que tem defeitos, mas que é um experimento".


Mas que fique bem claro: não é um experimento socialista, é um experimento de conciliação do capital e do trabalho. Seu intento não foi apenas favorecer os trabalhadores e também a burguesia com a paz social.

A ideia de que todos devem se unir junto do PT e suas políticas, senão virá uma ditadura muito pior é agora o recurso utilizado pelos governistas para conseguirem unificar sua base. Não é um argumento tão original, pois já vi esse argumento reproduzido no passado também por Arnaldo Jabor na antiga Revista Imprensa. A ideia era que, ou nós do PT aceitávamos as privatizações ou viria uma ditadura militar neoliberal para nos dar porrada.

Enfim, o PT aceitou as privatizações, mas eu continuo onde sempre estive (contra elas) -- e agora  fora do PT.

A partir de quando surgiram as primeiras denúncias sérias contra o PT, em 2003, Lula começou a propagandear que as acusações seriam parte de um golpe. Aproveitou-se do fato de que Chávez esteve, em 2002, às voltas com um golpe verdadeiro e utilizou o fato.

O PT não usa, internamente, o termo mensalão e sim alguns usam o termo "golpe de 2005".

Por que o impiximã contra Collor foi democrático e esse agora não teria embasamento algum? E o pior é o caráter do tal experimento de que Schwarz fala. Agora os petistas associam a todo momento seu experimetno ao populismo latino-americano, ligando seu destino ao peronismo e ao bolivarianismo, assim como aproximam Lula e Vargas. Embora ambos sejam estadistas latino-americanos, Lula é minúsculo perto do legado do gaúcho. Como disse Brizola, Lula é a espuminha da história.

Participei do golpe contra o agora companheiro Collor, em 1992, cantando canções de Raul Seixas e Legião Urbana. Igualmente, ao contrário de agora, quando procuram conspirações até quando a Globo manifesta-se contra o impiximã, os petistas antes vibravam com as mensagens subliminares anti-Collor do grupo Globo imbuídas na minissérie Anos Rebeldes.

Como foi delicioso dar aquele "golpe" ao som das canções de Caetano Veloso e de planos que copiavam os de Godard, atravessando paredes!

O experimento findará, Schwarz, sem ter feito reformas no país, nem reforma agrária não saiu, distribui-se menos terra do que nos tempos de FHC. A reforma agrária é tarefa da transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Somos muito atrasados, portanto.

O golpe de 64, Schwarz, foi no seu entender um "momento estelar".  Agora, talvez estejamos num outro "momento estelar", meu caro, onde sua boa estrela está se apagando! O outro foi bom? Veja o que Schwarz escreveu:


"Como hoje está na moda achar que 1964 não foi nada, não custa lembrar que Lincoln Gordon, o embaixador americano na época, reconheceu que o golpe militar brasileiro foi um momento importante da Guerra Fria. Refletindo sobre o golpe à luz da irrisão tropicalista, que veio na sua esteira, um "brasilianista" me observou que nossa virada à direita teve papel precursor e deu ensejo à ordem pós-moderna, o que achei inesperado e sugestivo."


 Eu acho que não se deve combater quem pede o impiximã pelo seguinte motivo: é MUITO bom que o coreto dos ricos e poderosos esteja sendo bagunçado. Como disse Lênin: a revolução acontece quando os de cima não conseguem mais dominar como antigamente e os de baixo não se deixam mais explorar pacificamente com em épocas normais. Eu amo vocês neoliberais burgueses detonando o ás da burguesia, o líder neoliberal de direita que é o Lula. A situação sem Lula irá radicalizar bastante. É algo inesperado e sugestivo.

O impiximã contra Dilma tem caráter de classe, ou seja, o impiximã é burguês, é parte da luta da burguesia contra os trabalhadores. Já o impiximã contra Collor foi um impiximã proletário contra burguês? E Collor, burguês redimido, agora cerra fileiras ao lado dos trabalhadores? 







2 comentários:

Revistacidadesol disse...

"Como hoje está na moda achar que 1964 não foi nada, não custa lembrar que Lincoln Gordon, o embaixador americano na época, reconheceu que o golpe militar brasileiro foi um momento importante da Guerra Fria. Refletindo sobre o golpe à luz da irrisão tropicalista, que veio na sua esteira, um "brasilianista" me observou que nossa virada à direita teve papel precursor e deu ensejo à ordem pós-moderna, o que achei inesperado e sugestivo." Schwarz sobre 64.

Paulo Falcão disse...

Caro Lúcio, como sempre temos divergências profundas, mas neste caso temos uma afinidade importante: ambos consideramos a posição de Roberto Schwarz um equívoco, e dos grandes.

Trato de um outro aspecto destas falas rasteiras aqui:
MARILENA CHAUÍ, ROBERTO SCHWARZ E O CIRCO DE HORRORES.
http://wp.me/p4alqY-lL