sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resposta a Bertone Sousa sobre Medvedev


O professor Bertone Sousa reforçou seu discurso que apenas reitera suas posições anteriores no que diz respeito ao Relatório Kruschev, agora apoiado em um texto do historiador russo Medvedev. No entanto, vemos o que Harpal Brar, paquistanês que vive na Inglaterra, comenta a respeito do livro Deixe a História Julgar, de Medvedev:


4. Na questão do socialismo, como de fato em outras questões, os ataques a Stalin
e ao 'stalinismo' eram quase sempre ataques a Lênin e ao leninismo. Para mostrar a
correção desta afirmação, seria útil recorrer a um livro chamado Let History Judge,
escrito por um intelectal burguês soviético de nome Roy Medvedev. Medvedev ataca
Stalin. porém 'elogia' Lênin. O ataque de Medvedev a Stalin não se baseia em
quaisquer fatos ou documentação, mas em meras intrigas e na imaginação fértil de um
cérebro burguês cujo produto em termos de invenção é ilimitado.
Mesmo o colunista anticomunista reacionário Edward Crankshaw, um dos críticos
deste livro no Observer de 26 de Março de 1972, teve que admitir que Medvedev
teve "acesso negado a todos os arquivos oficiais". Isto, contudo, não evitou que
Crankshaw concordasse com o ataque de Medvedev a Stalin e o admirasse, sendo o
motivo para isso o fato de que seria "este livro o drama elevado de um indivíduo
talentoso lutando em busca da verdade, guiado apenas por sua luz interior". É assim
que a verdade é estabelecida pelo pensamento burguês, isto é, ignorando
completamente os fatos e apoiando-se na "na luz interior" de alguém.
Crankshaw segue dizendo: "Porém, além de ser história de uma época e um ato
de homenagem às inúmeras vítimas e aos sofrimentos do povo soviético como um
todo, sua narrativa tem acima de tudo o objetivo de estabelecer as bases necessárias
não apenas para a rejeição absoluta das tentativa de atribuir grandeza a Stalin mas
também, mais profundamente, para a abertura de uma discussão inteligente da
natureza da revolução de Lênin e de sua perversão.
Aqui é onde Laocoonte1 surge. Como o Professor Joravsky (cuja edição merece
todo louvor) assinala em sua introdução, grande parte do impacto extraordinário do
livro como um todo deriva da tensão constante criada pelas contradições inerentes à
sua tese central. Como diagnosticar o "desastre" stalinista sem condenar o sistema [soviético].
Como está certo o Professor Joravsky ao detectar esta contradição inerente! Ele
está muito certo ao destacar que a "doença stalinista" não pode ser
diagnosticada "sem condenar o sistema soviético e seu progenitor, Lênin". Toda
tentativa deste gênero fracassa, e todos os que condenam o 'Stalinismo' estão
obrigados a acabar condenando o leninismo. Não é à toa que Crankshaw termina sua
crítica expressando a esperança de que Medvedev "possa ainda um dia corrigir a
fraqueza [a incapacidade de Medvedev de diagnosticar a "doença stalinista" pela
condenação de Lênin], o que seria uma façanha muito notável.
De forma parecida, Mervin Jones, em sua crítica do mesmo livro (New Statesman,
14 abril de 1972), comenta que "mesmo seus capítulos analíticos respondem a
questão 'Como?' mais do que a questão 'Por quê?'. Ele adota sem objeção a doutrina
das 'normas leninistas', assume que Lênin esteve sempre certo e diz-nos que Stalin
'liquidou quase completamente a democracia socialista que era um dos principais
resultados da revolução de Outubro' - sem perguntar quanto esta democracia tinha
sido erodida na época de Lênin, e ainda menos se ela realmente existiu. Ele até
mesmo traça um contraste entre a polícia secreta Stalinista e a Cheka, escrupulosa,
humana, que afinal de contas liquidou 6.000 pessoas sem julgamento em 1918 e foi
autorizada por Lênin a embarcar em um 'terror vermelho maciço'. Diz-nos que a
teoria da revolução permanente de Trotsky estava 'errada' e que a teoria da
acumulação primitiva de Preobrazhensky estava 'incorreta', despachando
sumariamente questões altamente complexas. O pior lapso surge quando Medvedev
afirma solenemente que Beria era um agente antibolchevique em 1919 e que isso foi
'estabelecido' por seu julgamento em 1953 - um julgamento que foi certamente
secreto e provavelmente não existiu. Infelizmente é difícil mesmo para o mais
honesto produto do regime soviético livrar-se dessa camisa-de-força mental.
Em outras palavras, Mervyn Jones diz que não se pode condenar Stalin sem
condenar o sistema soviético e o leninismo. E ele está certo. Certamente, não é preciso
dizer, Mr. Jones gostaria de ver condenado não apenas o 'stalinismo' mas também o
leninismo e o sistema soviético. Os revolucionários, entretanto, extrairiam a lição
oposta e não deveriam condenar Stalin, pois tal condenação conduz diretamente à
condenação do leninismo e do sistema soviético. Stalin não fez mais nem menos do
que aplicar o leninismo às condições da URSS na construção do socialismo. Pode-se
assim ver que, quando os trotskistas, revisionistas e outros condenam Stalin, eles estão
de fato condenando o leninismo, a despeito de alguns desejos subjetivos em contrário
que alguns desses cavalheiros podem ter." (Brar, pp. 21-22).


Sendo assim, pode-se notar que Bertone oscila entre condenar e igualar o sistema soviético como um todo, igualando Lênin e Stálin e ao mesmo tempo ele busca salvar o argumento trotsquista de que bolchevismo e stalinismo são diferentes. No entanto, isso são apenas desejos subjetivos.





segunda-feira, 21 de julho de 2014

Liberdade para os presos políticos da Copa!

Todos nós que fomos do PT no passado agora estamos com a cara queimando de vergonha com as prisões ilegais de jovens que estavam protestando. Foi para isso que lutamos, que participamos de passeatas nos anos 80 e 90? Ainda tem gente que manda denúncias aqui para esse blog, falando que a mulher de Luís Nassif recebeu não sei quanto, etc. Sinceramente? Podem investigar, a mim não importa. Meu pensamento está com Sininho e os demais presos políticos.

domingo, 20 de julho de 2014

Kruschev mentiu, Bertone também!


No artigo Kruschev não mentiu sobre Stálin, Bertone Sousa elenca seus argumentos para supostamente criticar...Grover Furr!

Primeiro, ele cita o Relatório Kruschev. Bertone, leia o Relatório, meu amigo. Ele expressamente inocenta os réus dos Processos de Moscou, mas, ao contrário de você, ele diz claramente que Bukharin, Trotsky e outros eram anti-leninistas (como aliás, é você) e que Stálin estava certo ao combatê-los. Você concorda??? Kruschev não ousou negar que Stálin tenha sido marxista, embora posteriormente tenha passado a insultá-lo, chamando de explorador de jogos de azar, assassino, etc.

O objetivo de Kruschev não era exatamente atacar Stálin, mas criar uma nuvem de fumaça para esconder a restauração do capitalismo.

Depois você me vem com a carta ao congresso de Lênin. Essa carta chama Trotsky de falso bolchevique e sujeito vaidoso, preocupado com questões administrativas meramente (em outros termos, burocrata). Você CONCORDA??? Essa carta levanta discussões absolutamente superadas em 56. Stálin foi eleito para seu cargo, não foi "quem indica" de Lênin. Lênin demonstrou um fraco por aqueles que estiveram com ele no exílio, por isso sua paciência infinita e indulgência com as trapalhadas de Trotsky. Enquanto Lênin estava no exílio, o organizador do partido que permaneceu na Rússia, sendo preso sucessivamente, era Stálin.

Mais adiante, Bertone, você dá outro salto. Até aqui, você estava tentando se travestir de super bolchevique, leninista, marxista autêntico. A partir de um certo ponto, você passa a defender Kautsky, a quem Lênin renegou, chamou de canalha e falsificador do marxismo.


Para ele, o alvo principal de Stálin não era a destruição do capitalismo, mas da democracia e das organizações políticas e econômicas dos trabalhadores. Sem dúvida, o modelo de governo bolchevique serviu de inspiração a seus inimigos fascistas e nacional-socialistas na construção de um Estado total.

O truque aqui é colocar Kautsky, que na hora H, achou que Hitler era um mal menor que Stálin, como o revolucionário verdadeiro.  A ideia é aproximar leninismo de nazismo e colocar Stálin como conservador e não um radical. É o truque de Slavoj Zizek. Quem iguala leninismo e nazismo favorece secretamente o nazismo. É o caso de você, Bertone, mas não sei se exalte, você está em boa companhia.


A seguir, você lembra, com acuidade, que Kruschev fazia culto da personalidade de Stálin. Bingo! Kruschev, depois da morte de Stálin --que é tão misteriosa quanto a de Beria, ou seja, ele pode ter sido assassinado...por quem? Pelo grupo de Kruschev! --Kruschev simplesmente INVERTEU O CULTO. Antes, ele organizou o culto da personalidade a contragosto de Stálin, sabendo que com isso o desagradava, como uma forma de prejudicá-lo. Stálin comentou a respeito ainda em vida, mas tolerou o culto, não imaginando que poderia trazer problemas. Nada demais em celebrar os líderes. O que Kruschev fez foi usar o tal argumento do culto da personalidade para decapitar o partido e os líderes. Não à toa, Gorbachev iniciou carreira escrevendo elogios desbragados a Stálin, segundo ele mesmo disse.


Mais adiante, você elogia Richard Pipes, historiador anticomunista e propagandista da Guerra Fria.  Esse sim, é mentiroso como você:



Ora, os bolcheviques realizaram a “revolução socialista” num país economicamente subdesenvolvido, em que o capitalismo mal aprendera a dar os primeiros passos, e tomaram o poder sem acreditar na capacidade revolucionária dos trabalhadores. Foi em consequência disso, em cada estágio de sua evolução, que o regime comunista russo repeliu seus oponentes sem qualquer consideração à doutrina marxista, ainda que disfarçando seus atos mediante slogans marxistas. Lênin foi bem-sucedido, precisamente porque estava livre dos escrúpulos marxistas que inibiram os mencheviques. À vista desses fatos, a ideologia era para ser tratada como um fator subsidiário – uma inspiração e um modo de pensar da nossa classe governante, talvez, mas não uma série de princípios orientadores de suas ações nem um fator que as explique para a posteridade. Só um observador pouco informado a respeito do curso da revolução russa pode inclinar-se a admitir influência dominante às ideias marxistas.


Os bolcheviques provaram ser possível construir um estado socialista num país subdesenvolvido, mas sempre confiaram nas massas, sim. Claro que havia consideração ao pensamento marxista --e não "doutrina"--que vocabulário viciado é esse que você usa..."Doutrina", "slogans". A seguir, recomeçam as críticas veladas a Lênin.

Como José Paulo Netto e como todo bom revisionista, quando você fala em Marx, você é todo elogios. É um santo, é um gênio. Aí você faz culto da personalidade. Quando esse "Marx" abre a boca, convém que ele "fale" justamente aquilo que agrada ao revisionista. É a VERDADE, é "marquicismo genoíno". Quando toca em Lênin, o humor salga. Melhor não aprofundar muito. Já Stálin é "aquela barbaridade". Falar mal de Stálin é o preço que se paga para o marxismo revisionista poder circular. Se falar mal da União Soviética, melhor ainda.

Enfim, no seu texto há uma tensão entre considerar ou não Stálin como continuador de Lênin e um desejo de rejeitar, em bloco, os bolcheviques, o sistema soviético, Lenin e Stálin como um todo (que leva a pensar que são todos iguais).

Enfim, você utiliza o título do livro de Grover Furr, "Kruschev Mentiu", nega, mas não analisa o livro dele, até porque não está disponível em português e você não leu. No entanto, lendo seu texto, dá a entender que Furr não é historiador. No entanto, é você quem critica e acusa sem ler. O livro Kruschev Lied ("Kruschev Mentiu") nem sequer está disponível em português, sendo possível encontrá-lo, no máximo, em galego.

Então, Bertone, seja mais responsável, afinal você é um professor de uma Universidade. Leia o que você pretensamente quer resenhar. Não fique dando a entender algo que não aconteceu ou fingindo que leu, ou seja, garganteando e mentindo.




sábado, 19 de julho de 2014

Zizek, um plagiador?


Li recentemente uma matéria muito bem articulada mostrando que Slavoj Zizek pode ter plagiadoplagiado um jornal conservador e que prega a supremacia branca. Há dois anos, a tradutora Denise Bottman apontou um outro problema dee plágio ligado não diretamente a Zizek, mas à editora ter tomado como base a tradução editada em Portugal. Segundo comentário lido no twitter, Zizek teria supostamente defendido a Boitempo naquela ocasião.

Agora a coisa foi tão séria que Zizek respondeu dizendo que "um amigo" mandou um resumo do livro de Kevin Mcdonald´s com as passagens problemáticas. No entanto, não foi o amigo quem escreveu o texto e sim Zizek.

Isso pode ser um indício de que Zizek conta com uma equipe para ajudá-lo a produzir seus livros, uma vez que mantém uma produção prolífica. Ele também tem uma linha marxista desde 1989, tendo, antes disso, sido um dissidente antimarxista ferrenho. Zizek, como na paródia aqui postada, são muitos "Zizeks".

A hipótese de que Zizek tenha plagiado um jornal que prega a supremacia branca vem de encontro às análises realizadas por Jacob Lewin e Molly Klein no painel na Left Forum sobre ele, Zizek Delenda Est, que foi objeto de uma postagem aqui em meu blog.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Carta da Internacional Comunista ao CC do Brasil desdiz o bolha William Waack

Esse documento, traduzido do russo por Erick Fischuk e até então inédito, tem a grande vantagem de desmistificar o livro Camaradas, de William Waack, o pretensioso e arrogante âncora da Globo. Sim, a acusação de Waack de que Prestes e seus camaradas fizeram o levante de 35 sob ordem de Moscou é um equívoco.


9.VI.33                                             TEXTO FINAL                            CONFIDENCIAL.



CARTA DO SECRETARIADO DA I.C. PARA A AMÉRICA DO SUL
E CENTRAL AO C.C. DO P.C. DO BRASIL

[Manuscrito:] Kommentarien zur Resol. der Pol. Komm. am 27. IV. 1933 г.


I.

1 ‒ A situação semicolonial do Brasil, seu papel de apêndice agroprimário dos países capitalistas desenvolvidos e o predomínio dos resquícios feudais e escravistas em sua organização socioeconômica determinaram a profundidade e a amplitude consideráveis da crise econômica que assola o país. Justamente esses fatores fizeram também com que o nível de vida das massas trabalhadoras caísse assustadoramente, chegando abaixo do necessário à sobrevivência, no que concerne a amplas camadas da classe operária e do campesinato. Ao mesmo tempo, é exatamente a situação semicolonial do Brasil e a competição anglo-americana pelo “direito” de monopolizar sua exploração que conduzem, no seio das classes dominantes, às mais agudas formas de lutas grupais, incluindo a guerra e a sublevação. A supressão da revolta de 1932 em São Paulo de forma alguma indica que arrefeceram as contradições entre o bloco burguês-latifundiário paulista e a camarilha governante de Vargas, ao mesmo tempo em que tem se agravado as contradições dentro da própria camarilha de Vargas, portadoras da perspectiva de novos conflitos e golpes.
Para incrementar o movimento revolucionário e para que ele atraia com ímpeto as mais amplas massas e as faça destruir o domínio burguês-latifundiário nas diversas regiões do Brasil, têm surgido condições objetivas cada vez mais favoráveis.

2 ‒ Além disso, justamente o atraso semicolonial do Brasil – seu débil desenvolvimento industrial, o baixo nível material e cultural da classe operária e um movimento operário sem tradições marxistas e com fortíssimas influências pequeno-burguesas, particularmente anarcossindicalistas ‒ determinou a extraordinária fraqueza do PC e seu atraso em relação às possibilidades revolucionárias objetivas surgidas no cenário de crise e de fim da estabilização capitalista. Apesar de alguns êxitos do Partido Comunista do Brasil em diversos campos de atuação, ele não soube superar no essencial as tradições pequeno-burguesas predominantes no movimento operário brasileiro. De fato, as diretivas da carta de 1930 ao PCB, bem como toda uma série de instruções e cartas do Bureau Sul-Americano do CEIC, não saíram do papel, não foram levadas às bases nem basearam qualquer reestruturação do trabalho partidário. Na verdade, o Partido ainda não superou os longos anos que caracterizaram sua formação inicial: por sua informidade ideológica e porosidade organizacional, por sua infestação por elementos de classes estranhas, pela fraqueza de seus quadros dirigentes, pela extrema insuficiência de suas ligações com as amplas camadas de trabalhadores urbanos e rurais, pela incompletude ou mesmo ausência de toda uma gama de setores importantíssimos de atuação partidária ‒ por tudo isso o PCB, no atual momento, não está em condições de aproveitar plenamente as possibilidades revolucionárias objetivas excepcionalmente favoráveis, nem de comandar as massas trabalhadoras, principalmente o proletariado, sequer no curso de suas lutas mais iminentes ou já desencadeadas contra a ofensiva do capital, a reação política e o perigo da guerra, sem já falar na luta pelos objetivos fundamentais da revolução antifeudal e anti-imperialista. Na maioria dos casos o Partido tem permanecido à margem da luta econômica e política de massas, não a desencadeando nem a liderando, e ainda não tem atuado na arena da luta de classes do Brasil como um protagonista ativo que organize, comande e guie as massas. Por isso, a luta das massas trabalhadoras cada vez mais radicais tem ocorrido principalmente na forma de ações espontâneas e desorganizadas que, no mais das vezes, terminam derrotadas. Uma parte significativa da classe operária, bem como do campesinato, tem caído sob a influência de um ou outro de nossos adversários ‒ socialistas, anarcossindicalistas, ex-prestistas e outros ‒ que escondem sua essência contrarrevolucionária com manobras “de esquerda” mais ou menos avançadas. Somente o fortalecimento do PCB e sua transformação num verdadeiro Partido bolchevique, intimamente ligado às massas e que organize e lidere suas lutas econômicas e políticas, podem garantir êxito no aproveitamento das possibilidades objetivas favoráveis à vitória da revolução.

3 ‒ A situação política geral do PCB se caracteriza atualmente pelos seguintes traços: o Partido ainda está longe de ser um verdadeiro Partido bolchevique, de assimilar a teoria marxista-leninista e nela basear sua prática política, de alcançar a independência ideológica em relação às classes dominantes e de desligar-se com suficiente clareza das teorias das classes estranhas e inimigas. Algumas camadas do Partido ainda não se livraram do peso das ideias anarcossindicalistas, prestistas, trotskistas e outras, que se apresentam ora num formato direitista abertamente oportunista, ora encobertas por um palavreado “de esquerda”. Por conta da crise do movimento revolucionário pequeno-burguês no Brasil, o Partido Comunista constituiu, até recentemente, um centro de atração de diversos elementos pequeno-burgueses que frequentemente conservavam ligações diretas com as camarilhas burguesas-latifundiárias dominantes e traziam para as fileiras comunistas influências de classes estranhas, as quais engendraram uma série de distorções na linha partidária prática.
Os desvios de direita mais perigosos se manifestam, sobretudo: na “teoria” segundo a qual o proletariado deve renunciar à luta pela hegemonia da revolução democrático-burguesa e ceder o papel dirigente da revolução à burguesia e à pequena burguesia (“teoria” de Astrojildo, Brandão e outros); nos esforços para impedir que o Partido atue como força independente na atual luta política (a palavra de ordem “primeiro se organizar, e depois lutar” de Cazini, e sua proposta e de outros de que A Classe Operária se abstivesse de publicar artigos políticos, limitando-se apenas à correspondência operária etc.); nos esforços para limitar as tarefas do movimento sindical revolucionário à mera luta econômica; no tratamento da FJC como uma “organização de frente única que deve congregar os jovens trabalhadores de todas as orientações políticas”; nas atitudes conciliatórias e capitulacionistas perante estes ou aqueles agrupamentos burgueses-latifundiários (a “teoria do mal menor” com relação a Miguel Costa em São Paulo, com relação aos tenentistas e mesmo a Vargas no Rio, no período da “guerra civil”) etc. Todas essas “teorias”, que têm seu fundamento lógico na ideia completamente oportunista de Astrojildo e outros sobre a “revolução proletária que amadurece à sombra da revolução pequeno-burguesa”, estão muito estreitamente ligadas à prática oportunista dos “compromissos” e “conciliações” com diversas correntes “de esquerda” do campo burguês-latifundiário contrarrevolucionário – trotskistas, ex-prestistas que agora se tornaram um sustentáculo do domínio burguês-latifundiário etc.
Os desvios de esquerda se manifestam: na superestimação do grau de amadurecimento da situação revolucionária (a palavra de ordem da criação de sovietes camponeses em São Paulo); na recusa em aplicar a tática da frente única pela base e em lutar por reivindicações parciais; na escamoteação da importância de se unir ao campesinato; na subestimação da questão nacional; nas tendências sectárias e golpistas; na passividade e no “neutralismo” semianarquistas nos momentos de aguçamento da luta entre as camarilhas burguesas-latifundiárias pelo poder; na subestimação da importância dos recursos legais (a palavra de ordem do “boicote à Constituinte”) etc. Todas essas atitudes esquerdistas, reflexos da influência pequeno-burguesa sobre o Partido Comunista, na verdade escondem a passividade oportunista no tocante ao trabalho persistente e sistemático de mobilização e organização das amplas massas trabalhadoras urbanas e rurais sob a bandeira do PCB.

II.

            1 ‒ A DEBILIDADE DOS QUADROS DIRIGENTES DO PARTIDO. Esses quadros dirigentes se compõem, em grande parte, de elementos não proletários ou há muito tempo inativos, que ainda não assimilaram os fundamentos da teoria marxista-leninista ou se encontram até mesmo, em maior ou menor grau, sob a influência de ideologias estranhas, muitos deles sendo contaminados pelo espírito do sectarismo e da politicagem e uns tantos até mesmo ligados direta ou indiretamente a diversos agrupamentos oposicionistas e renegados ou a aventureiros e demagogos “de esquerda” do campo das classes dominantes, tais como Miguel Costa. Apenas há pouquíssimo tempo tem começado a cristalizar-se um grupo dirigente que, embora ainda não tenha se livrado da hesitação e da vacilação numa série de questões políticas, mesmo assim tem se esforçado sinceramente em executar uma linha política bolchevique e, portanto, pode futuramente, com a condição de uma autocrítica decidida e com base numa reestruturação radical de todo o trabalho partidário, tornar-se o núcleo sólido e sadio de um PC do Brasil bolchevique.
            As tarefas no sentido de fortalecer e sanear os quadros dirigentes só podem ser cumpridas com êxito na base da participação do Partido como força dirigente nas lutas econômicas e políticas de massas, forjando e verificando os quadros não somente no curso das discussões intrapartidárias, mas também, e acima de tudo, das lutas de massas. As tarefas mais urgentes do Partido nesse campo são:
            a) orientar-se decididamente rumo à proletarização dos quadros dirigentes, com a condição de manter a melhor parcela da velha liderança e sem empregar métodos mecânicos ou fictícios no processo, entre eles o de aproveitar, nos comitês, “operários” já há muito inativos; além disso, deve-se prestar especial atenção ao aproveitamento e à promoção de camaradas que tenham se mostrado bons dirigentes de massas no curso das lutas econômicas e políticas do proletariado;
            b) organizar um estudo marxista-leninista sistemático para os quadros ativos (realizar cursos de curta duração para os ativos, publicar literatura marxista-leninista em língua portuguesa, enviar uma série de ativistas para as escolas de formação dos Partidos Comunistas irmãos – especialmente o argentino[1] ‒ etc.);
            c) afastar decididamente dos postos dirigentes todos os membros que estejam realizando um trabalho sectário e excluir do Partido todos os indivíduos ligados a correntes políticas estranhas e inimigas; além disso, é indispensável conseguir esclarecer todos os membros do Partido, de modo sistemático e profundo, sobre a essência antipartidária e contrarrevolucionária desses elementos, evitando ao máximo afastá-los mecanicamente sem desmascará-los com justeza aos olhos dos membros do Partido, como ocorreu, por exemplo, no caso de Astrojildo.

2 ‒ A POROSIDADE E A INFORMIDADE DO CONJUNTO DA ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA.

Em vários casos, as organizações partidárias só existem no papel, quase não revelando nenhuma manifestação prática. As células estão isoladas das massas e não têm existência própria, e as frações sindicais, na maioria dos casos, não saíram do papel. A imprensa partidária publica com extrema irregularidade, e por enquanto não pode sequer aspirar minimamente ao papel de “organizador coletivo” que dá coesão e forma ao Partido, papel que a imprensa bolchevique da Rússia já desempenhava nos primeiros tempos do desenvolvimento do bolchevismo. O PC do Brasil, na verdade, ainda não existe como um Partido realmente nacional, com dirigentes vindos de todas as partes, e a ligação entre seus diversos setores se destaca por sua extrema fragilidade (débil ligação entre o CC e os CRs, e entre os CRs e o aparelho de bases; isolamento entre os comitês do Partido e as massas partidárias em geral; discrepância entre as atuações desses comitês e das frações partidárias nos sindicatos e em outras organizações de massas etc.). Existe no Partido uma série de agrupamentos isolados mais ou menos fechados que se opõem ao conjunto da militância nesta ou naquela questão ou até a toda a linha político-partidária, que por vezes intrigam contra o Partido e se ligam a elementos contrarrevolucionários abertamente inimigos, tais como trotskistas, diversos aventureiros e demagogos “de esquerda” das classes dominantes etc. A disciplina partidária é extremamente débil, ocorrendo inúmeros casos de insubmissão direta às decisões dos órgãos dirigentes e casos ainda mais numerosos de silêncio e desprezo a suas instruções.
As tarefas do Partido no sentido do fortalecimento do conjunto do aparelho partidário só podem ser resolvidas no imediato com a condição de concentrá-las, antes de tudo, em algumas regiões essenciais ‒ tais como os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco ‒, onde devem ser reunidos os melhores organizadores, agitadores, propagandistas e literatos do Partido, mesmo com prejuízo às regiões restantes. As organizações dessas regiões também devem ser fortalecidas com membros do Comitê Central a serem distribuídos entre as regiões onde o Partido concentrará sua atenção principal, mantendo-se no centro apenas um pequeno grupo de camaradas absolutamente indispensáveis.
É evidente que o fortalecimento e o saneamento organizativos do Partido só podem ser alcançados com a condição dele participar o mais ativamente possível como força dirigente nas lutas econômicas e políticas de massas. Tem um caráter completamente oportunista a “teoria” que circula em algumas camadas do Partido e era defendida particularmente por Cazini, segundo a qual o Partido deve “primeiro se organizar, e depois lutar”. Somente no próprio curso da luta de massas e com base no estudo e na assimilação de sua experiência por todos os membros do Partido é que se torna possível um real fortalecimento das organizações partidárias.
Por outro lado, o fortalecimento do Partido pressupõe o mais amplo desencadeamento da autocrítica de baixo para cima, ligada a um minucioso debate, por toda a massa de membros do Partido, de todas as tarefas postas diante deles, ao balanço detalhado e à correção dos erros cometidos, à constante autoverificação no curso das lutas de massas e ao fortalecimento da disciplina partidária.

3. O PARTIDO AINDA NÃO APRENDEU A MANEIRA BOLCHEVIQUE DE COMBINAR OS MÉTODOS LEGAIS E CLANDESTINOS DE ATUAÇÃO. Por um lado, em algumas camadas do Partido, existem tendências “legalistas”, oportunistas de direita, que representam, na atual etapa, o perigo principal e que se expressam particularmente nos intentos de “aproximar-se” de diversos aventureiros e demagogos “de esquerda”, tais como Miguel Costa, e, dessa forma, garantir para si uma saída para a “ampla” arena das intrigas políticas mais ou menos “legalizadas”. As tendências “legalistas” também se expressam na subestimação do significado decisivo do aparelho partidário ilegal na atual etapa, na recusa em tomar medidas sérias e sistemáticas de luta contra os provocadores etc. Por outro lado, o Partido não tem lutado amplamente para aproveitar as possibilidades legais com objetivos revolucionários, criando para si, dessa forma, dificuldades para tornar-se um legítimo Partido de massas (subestimação da atuação nos sindicatos legais, indicação da palavra de ordem de boicote às eleições para a Assembleia Constituinte por alguns camaradas, recusa em utilizar editoras burguesas para publicar obras de Marx, Engels, Lênin e Stálin sob o pretexto de que isso seria “moralmente inadmissível” etc.).
Aproveitando ao máximo todas as possibilidades legais disponíveis, o Partido deve, ao mesmo tempo, prestar a mais séria atenção às tarefas de fortalecimento e saneamento do aparelho clandestino, afastando decididamente todos os elementos desconfiáveis e garantindo, em primeiro lugar, a ligação das regiões essenciais entre si e com os órgãos dirigentes. É de particular importância garantir o fornecimento mais sistemático possível de livros às organizações partidárias brasileiras, tanto os editados legal ou clandestinamente dentro do país quanto os editados no exterior.

4 ‒ A LIGAÇÃO INSUFICIENTE ENTRE O PARTIDO E A CLASSE OPERÁRIA. Enquanto não houver uma ligação firme entre o Partido Comunista e a classe operária, não se pode nem falar em bolchevização do Partido ou em sua transformação numa organização realmente capaz de liderar com êxito a luta revolucionária de massas. Entretanto, o PCB continua sendo de fato uma organização fechada que não soube estabelecer uma forte ligação com as massas proletárias.
Mesmo quando se criavam condições objetivas excepcionalmente favoráveis para o reforço da ligação entre o Partido e a massa trabalhadora ‒ tal como durante a greve dos ferroviários, quando as próprias massas, por vezes, “procuravam” o Partido Comunista e buscavam permanecer sob sua liderança ‒, elas foram extremamente mal aproveitadas. O Partido ainda está isolado das amplas massas operárias, ora ficando para trás na evolução do movimento de massas, o que constitui o perigo principal (assim, por exemplo, uma série de grandes greves se realizou sem qualquer participação do PC do Brasil), ora lançando, por outro lado, palavras de ordem e diretivas esquerdistas (tendências golpistas, subestimação da tática da frente única pela base etc.).
Embora o PCB já tenha começado a desenvolver parcialmente a estruturação partidária com base nas células de empresa, ele ainda não tem células na maioria das grandes empresas. Aquelas existentes estão isoladas das massas, não sabem do que elas vivem ou quais são seus sentimentos e exigências, nem têm encabeçado ou liderado as massas em sua luta econômica e política cotidiana.
O movimento sindical revolucionário, principal correia de transmissão entre o Partido e as massas operárias, encontra-se num estado de total desorganização e sua atuação não tem se baseado nas instruções dadas pelo CEIC na carta sobre o trabalho sindical nos países da América do Sul e do Caribe. O movimento sindical revolucionário não só não se fortaleceu nos últimos tempos, como, pelo contrário, perdeu as poucas forças que tinha. A direção da CGTB praticamente não existe e as organizações sindicais revolucionárias, com algumas exceções, só existem no papel, não estando realmente ligadas às massas nem desencadeando ou liderando sua luta. No fundo, não se realiza um trabalho sequer nos sindicatos reacionários anarcossindicalistas e reformistas nem nos sindicatos oficiais recém-fortificados.
O Partido não somente não aprendeu a realizar na prática a frente única pela base, mas também sequer ainda se deu conta, por parte de inúmeras camadas suas, da enorme e atual importância dessa forma de luta pelo apoio da maioria da classe operária. O Partido não tem conduzido quase nenhuma luta real por reivindicações parciais nem organizado ações de massas em torno delas, embora lhes dê grande espaço em seus “manifestos”. Apesar da crescente demagogia de nossos adversários e embora eles empreguem manobras “de esquerda” cada vez mais amplas, o Partido não soube até agora concentrar minimamente suas forças no desmascaramento de seus adversários no curso da atual luta das massas operárias por reivindicações parciais.
A tarefa imediata do Partido no que toca fortalecer sua ligação com as amplas massas proletárias é concentrar o trabalho num pequeno número de grandes empresas ‒ especialmente criando e fortalecendo células partidárias ‒ e numa série de grandes sindicatos. O Partido deve formular reivindicações básicas, orientadas à defesa dos interesses imediatos da classe operária diante da crescente ofensiva do capital, do reforço da reação política e do agravamento do perigo da guerra, e deve organizar ações de massas em defesa delas. As reivindicações devem se adaptar às condições de cada região e de cada empresa, ter um caráter plenamente concreto e ser inteligíveis aos operários mais atrasados. O Partido deve criar nas grandes empresas “comitês de luta contra a ofensiva do capital e a reação política” como órgãos da frente única pela base, chamando a participarem trabalhadores de todas as orientações políticas e buscando, ao mesmo tempo, garantir a liderança comunista nesses comitês.
As células partidárias nas empresas e as frações comunistas nos sindicatos devem propor aos “comitês de luta” e às lideranças sindicais que se organizem ações de massas em defesa das reivindicações parciais ‒ comícios, manifestações, greves etc. ‒, desmascarando implacavelmente no próprio curso da luta de massas todas as tentativas de nossos inimigos de arrasar, sabotar e atraiçoar essa luta.
O Partido deve prestar a mais séria atenção à seleção e formação dos quadros dirigentes do movimento sindical revolucionário, organizando uma rede de cursos sindicais, criando uma publicação especial para os sindicatos etc.

5 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO NO CAMPO. Embora a vitória da revolução democrático-burguesa só seja possível garantindo-se o papel dirigente do proletariado comandado pelos comunistas, o PCB, com relação ao campesinato trabalhador, mesmo tendo obtido recentemente alguns êxitos, principalmente em São Paulo, no trabalho entre o proletariado agrícola, foram êxitos, em primeiro lugar, não consolidados por uma campanha de recrutamento bem sucedida e, em segundo lugar, não aproveitados para adentrar a influência partidária nas amplas camadas do campesinato pobre e médio. O Partido continua a subestimar a importância de uma liderança proletária no movimento camponês e não tem conduzido nenhuma luta real pelas reivindicações parciais do campesinato trabalhador, sequer elaborando uma lista delas. Quase não reagindo diante da luta das massas camponesas que tem se desenvolvido espontaneamente e adquirido, em vários casos, um caráter bastante impetuoso, o Partido, por outro lado, às vezes tem proposto diretivas que superestimam o amadurecimento da situação revolucionária e que, por isso, ficam em suspenso (tais como a da criação de sovietes camponeses, proposta em São Paulo no tempo da “guerra civil”).
As tarefas imediatas do Partido nesse âmbito são: a) criar células partidárias nas grandes regiões agrícolas, chamando os melhores e mais conscientes assalariados agrícolas e camponeses pobres e médios que no passado tenham participado ativamente do movimento revolucionário espontâneo dos camponeses; b) mobilizar parte dos quadros ativos urbanos num trabalho permanente no campo; c) realizar um trabalho sistemático nos sindicatos agrícolas já existentes e criar novos sindicatos; d) criar “comitês de luta camponeses” em prol dos interesses imediatos do campesinato pobre e médio e do proletariado agrícola; e) elaborar reivindicações parciais concretas e realizar em sua defesa uma série de ações de massas que passo a passo levem o campesinato a lutar pela apropriação e divisão imediatas dos latifúndios; f) estabelecer ligações com os melhores elementos do movimento dos “cangaceiros” que sejam estreitamente ligados às massas e conquistar a liderança desse movimento.

6 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO ENTRE AS MASSAS TRABALHADORAS DOS POVOS OPRIMIDOS. O Pleno de agosto de 1932 do CC submeteu a uma séria discussão a questão nacional, o que sem dúvida indica por si só um notável passo adiante. Mas nesse mesmo Pleno se revelou com toda clareza o quão débil ainda é a lida com os princípios básicos da política leninista das nacionalidades, mesmo entre os quadros dirigentes do Partido; assim, por exemplo, certos participantes desse Pleno se manifestaram contra a diretiva do direito dos povos à secessão, apontando que essa aspiração já fora alcançada nos EUA, onde os negros seriam “separados” dos brancos por lhes serem destinados, por exemplo, lugares especiais nos bondes, trens etc. Goza de ampla difusão no Partido toda sorte de teorias “raciais” burguesas, tal como a tendência a reunir os diversos povos indígenas numa única “raça”, escondendo a recusa em lutar pelo direito dos povos indígenas à secessão. O conjunto do Partido ainda não desenvolveu nenhum trabalho prático entre as massas trabalhadoras dos povos oprimidos em defesa de sua libertação nacional, limitando-se, no melhor dos casos, a frases e raciocínios gerais.
As tarefas do Partido nesse sentido são: a) lutar decididamente contra a subestimação da questão nacional, defender a palavra de ordem leninista do “direito dos povos à secessão” e combater toda e qualquer deturpação desse princípio; b) chamar às fileiras do Partido os melhores representantes do movimento revolucionário espontâneo das massas trabalhadoras negras e indígenas; c) articular a luta por reivindicações parciais à luta pela libertação nacional dos trabalhadores negros e índios (exigir iguais condições de trabalho aos operários de todas as nacionalidades, a abolição do trabalho forçado dos índios etc.).

7 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO EXTREMAMENTE DÉBIL AO TRABALHO ENTRE AS MULHERES E A JUVENTUDE TRABALHADORA. O trabalho sistemático entre as mulheres trabalhadoras é, no fundo, totalmente inexistente. No que concerne à FJC, o Partido não soube lhe manter as rédeas de modo sistemático e bem orientado politicamente, e por isso, em algumas camadas dessa juventude, ainda circulam teorias “vanguardistas”, bem como diretrizes pela sua conversão numa “organização de massas que abarque os jovens trabalhadores de todas as orientações políticas”, diretrizes que a transformariam, se postas em prática, numa arma política antipartidária e contrarrevolucionária.

8 ‒ O PARTIDO TEM PRATICAMENTE MENOSPREZADO A IMPORTÂNCIA DE LUTAR CONTRA OS IMPERIALISTAS, não tem realizado um trabalho sistemático para esclarecer as massas sobre a ligação indissolúvel entre as tarefas da revolução antifeudal e anti-imperialista, quase não soube penetrar nas empresas industriais e fazendas que se encontram nas mãos do capital estrangeiro e não tem proposto reivindicações parciais, articuladas especialmente com as tarefas gerais da luta para libertar o Brasil do domínio imperialista.

9 ‒ O PARTIDO AINDA NÃO SE CONSCIENTIZOU DA ENORMIDADE DO PERIGO DA GUERRA E NÃO TEM REALIZADO UM TRABALHO ANTIMILITARISTA SISTEMÁTICO NO ESPÍRITO DO MARXISMO-LENINISMO. Apesar da enorme importância do Brasil como uma grande base de retaguarda ou mesmo como um dos participantes de uma futura guerra interimperialista ou de uma guerra contrarrevolucionária dirigida à URSS e apesar do evidente perigo de uma intervenção brasileira numa guerra nas cabeceiras do Amazonas, o Partido não tem realizado uma campanha sistemática contra o perigo da guerra. Mesmo durante as greves que o Partido mais ou menos ativamente liderou, ele quase nada fez para ligar as reivindicações dos grevistas com as palavras de ordem antimilitaristas. O Partido não tem criado “comitês de luta contra a guerra” nas empresas industriais nem nas zonas rurais. De maneira absolutamente insatisfatória se realizou a preparação para o Congresso Latino-Americano Contra a Guerra Imperialista ‒ arregimentação insuficiente das massas, convite a trotskistas etc. O partido não ostenta nenhuma conquista real no trabalho entre as Forças Armadas das classes dominantes, limitando-se a lançar, vez ou outra, panfletos e apelos isolados, geralmente com diretrizes políticas errôneas. Assim, por exemplo, durante a “guerra civil” do ano passado, alguns apelos partidários propunham a diretriz pacifista pequeno-burguesa da luta “contra todas as guerras”, defendiam a teoria do “mal menor” com relação aos tenentistas, apoiavam a “tese” absurda de que a “preparação de uma intervenção antissoviética” era o “fator principal” das guerras no Chaco e no Brasil etc.
Em algumas camadas do Partido circula uma teoria esquerdista segundo a qual “a guerra seria um fato positivo, pois conduziria à revolução”, ou seja, uma teoria completamente oportunista, que esconde a incapacidade e a má vontade em realizar um trabalho de massas sistemático que desencadeie as lutas de classe na cidade e no campo, levando a classe operária e o campesinato trabalhador à revolução.

10 ‒ O PARTIDO NÃO LANÇOU UMA PROPAGANDA SISTEMÁTICA DAS CONQUISTAS DA EDIFICAÇÃO SOCIALISTA NA U.R.S.S. As tentativas de criar uma “Sociedade dos Amigos da URSS” até agora só levaram ao surgimento de organizações absolutamente desligadas das massas e convertidas num reduto de intelectuais pequeno-burgueses, parte dos quais intrigava contra o Partido sob o abrigo de um fraseado “de esquerda” e “pró-soviético”. O PCB não tem realizado uma campanha sistemática de esclarecimento sobre os êxitos, dificuldades e tarefas da edificação socialista na URSS, e em certas camadas do Partido existe até uma desconfiança nas iniciativas do PC(b) da URSS e do governo soviético, chegando a casos de calúnias trotskistas contra os bolcheviques e o camarada Stálin.

11 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO INSUFICIENTE À FORMAÇÃO INTERNACIONALISTA DE SEUS MEMBROS. Não têm sido esclarecidos os grandes acontecimentos de importância internacional e não tem sido feita nenhuma tentativa de estabelecer ligações entre esses acontecimentos com esta ou aquela tarefa do Partido e das amplas massas trabalhadoras.

12 ‒ ATUALMENTE A IMPRENSA PARTIDÁRIA AINDA NÃO CONSTITUI DE FORMA ALGUMA UM AUTÊNTICO “ORGANIZADOR COLETIVO” DAS MASSAS. Mesmo A Classe Operária, órgão central do Partido, tem aparecido de forma absolutamente irregular e sua ligação com as massas é muito débil. Ele não tem lançado luzes sobre a vida cotidiana dos trabalhadores nem respondido a seus interesses presentes ou refletido suas necessidades vitais. Ao mesmo tempo, A Classe Operária não está em condições de elevar o nível de consciência política das massas nem de servir como um autêntico propagador das ideias comunistas entre as massas. É indispensável: а) garantir uma tiragem regular e uma ampla divulgação de A Classe Operária; b) garantir um afluxo constante de correspondência operária e camponesa, desenvolver uma rede de correspondentes operários e camponeses e organizar-lhes a direção; c) criar um quadro permanente de colaboradores políticos para o jornal, capazes de assegurar-lhe uma feição bolchevique; d) garantir a liderança permanente do jornal por parte dos órgãos dirigentes do Partido.

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            A fim de livrar o Partido dos elementos estranhos e convertê-lo numa autêntica organização bolchevique, é indispensável debater a presente carta e as instruções especiais listadas, que devem ser trabalhadas pelo CC do PCB em todos os círculos partidários, nos comitês, células e frações comunistas, bem como traçar um plano concreto para livrar o Partido dos elementos estranhos e para reestruturar radicalmente todo o trabalho partidário.




[1] “... especialmente o argentino”: riscado na versão brasileira.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Gianotti X Coreia do Norte: As tolices de Bronsteyin

Caro Bronsteyin: tenho acompanhado no seu blog tentativas de defender o "verdadeiro marxismo" contra o "inimigo do povo" Cristiano Alves e difamações contra a Coreia do Norte. E vejo inúmeros artigos do professor Bertone Sousa sendo reproduzidos como se ele fosse "o" progressista. No entanto, vejamos um "marxiano" que ele cita favoralmente, Gianotti:

A recaída dos movimentos revolucionários na tentação do totalitarismo também não pode ocupar lugar secundário em nossas reflexões. Poucas teorias foram tão deformadas e tão amplamente usadas para justificar os mais variados atos, de lutas pela liberdade a tiranias. Com isso, vale o conselho de Giannotti[4]: “Atualmente os textos de Marx estão cobertos por camadas e camadas geológicas de reflexões sadias e tolices inomináveis. Cabe voltar à leitura cuidadosa dos textos originais, antes de armar um novo discurso sobre a ‘emancipação’, a ‘democracia radical’ e outras palavras de ordem. Para tanto, é preciso não perder de vista certas escolhas teóricas que Marx fez durante a montagem de sua obra”.


Ora, Gianotti, embora escreva Lições de Filosofia primeira, texto que é a fonte dessa citação acima, já foi ouvido na UFMG, nos anos 90, por pessoas do grupo do José Chasin defendendo a saída da Filosofia do Ensino Superior! Sim. Discutia-se a entrada da Filosofia no Ensino Médio e o canalha defendeu SUA SAÍDA DO ENSINO SUPERIOR! E ainda fatura com "lições de filosofia primeira". Para quem ele está escrevendo isso, então?
Note bem o que Gianotti escreve: o PRÓPRIO Marx, por você tão reverenciado, escreve TOLICES INOMINÁVEIS!!! Oh, meu Deus, onde estará o amigo do povo agora, quando seu magíster diz que os textos de Marx têm "camadas geológicas de tolices".
Esse grande geólogo das camadas de besteira, Gianotti, esteve outro dia no Roda Viva e definiu que quem chama ele de direita é "maluquinho"! Defendeu que os militares da ditadura militar tinham caráter, pedagogos não sabem o que ensinam. Mais moderado, o presunçoso apoia agora que a filosofia apenas saia do Ensino Médio. E o pior é que o regime militar tirou a Filosofia e a Sociologia do Ensino Médio e o PSDB está novamente propondo essa medida, culpando-nos, professores de Filosofia e Sociologia, pelo avanço do PT!
Para mim, nenhuma surpresa: Gianotti tem mais de cinquenta anos de serviços prestados à direita: foi um dos gurus do Seminário de O Capital na USP. Para tanto, inspirou-se nas ideias de Oswald de Andrade sobre o marxismo, com quem Gianotti estudou na adolescência, mas a quem raramente dá algum crédito enquanto autor crítico do marxismo-leninismo. Também pudera: Oswald é um autor brilhante, saboroso, muito longe das abstrações onto-pretensiosas de Gianotti e de seus paralelepípedos de estilo detestável, destinados à lata de lixo da história. Outro dia ele lançou "Certa Herança Marxista". Não seria "Certa Herança Machista"? Afinal, Gianotti, segundo uma entrevista de Marilena Chauí na revista Caros Amigos, dizia para as mulheres na sala de aula de Filosofia: "O que as margaridinhas tão fazendo aqui? Espera marido é na Letras!" 

É incrível imaginar que nos anos 90 Gianotti virou colunista da revista Veja e que seu texto sobre Wittgenstein (o marxismo ficou tão melado que ele praticamente o abandonou) foi apresentado pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso na Folha, sob o título paroquial e provinciano de "ENFIM, UM FILÓSOFO BRASILEIRO"!!!

 Oswald já tinha previsto que seria preciso inventar outro marxismo para a universidade, mas, embora profético, morreu pouco depois de levar bomba em um concurso para professor na USP, a meu ver a grande mancada da USP em todo o século passado. Essa foi a época em que os professores uspianos viram, na confusão gerada pelo agora comprovadamente falso Relatório Kruschev, uma boa oportunidade de hegemonizarem, com revisões e falsificações, o marxismo no Brasil. E foram muitíssimo bem sucedidos!
Leiam o que disse sobre Gianotti, em 1997, o professor Ruy Fausto, em carta publicada no site da Folha de São Paulo:

Resposta omitida"A Folha publicou no seu suplemento Mais! de 6/10/96, sob o título 'A esquerda passada a limpo', uma parte -menos da metade- de uma entrevista que dei ao jornalista Fernando de Barros e Silva, na qual tratei tanto de questões políticas de ordem geral como de problemas -a meu ver também de interesse geral- cujo território de origem é a universidade.Entre outras coisas, falei das práticas de concorrência brutal, bem conhecidas, do meu colega José Arthur Giannotti. Este me respondeu no jornal 'O Estado de S.Paulo' (ver 'A beca chifruda', 2/11/96). Giannotti se refere a mim como 'exemplo (...) teratológico' e afirma que 'há mais de 30 anos' eu o acuso, 'sem (...) uma única prova', de 'ter plagiado' as minhas idéias.Como já na parte não publicada da entrevista eu dava uma resposta a Giannotti, enviei um texto àquele jornal contendo a parte omitida. A publicação foi recusada. Dirigi-me então à Folha, julgando que o jornal não deixaria subsistir a situação anômala de alguém a quem se pedem razões que ficaram na gaveta do copidesque. O texto nunca foi publicado. Daí esta carta.Essa discussão pode parecer 'pessoal', como se costuma dizer, e sem importância. Mas como já tentei mostrar, essas pretensas questões pessoais são na realidade de ordem ética, e portanto universais.Não acusei Giannotti de plágio, mas -pior do que isso- de parasitismo e violência. Também dei alguns exemplos de vigarices teóricas do pretenso grande pensador.Se o texto tivesse sido publicado, os leitores poderiam julgar se as minhas razões e os meus exemplos constituem provas ou não. Desafio aliás os amigos de J.A.G. a desmentir as minhas alegações.A história dos métodos de Giannotti na universidade é conhecida de muita gente. Mas não se pode escrever sobre o assunto. Seria 'baixar o nível'.Como se a baixaria estivesse não no objeto, mas no discurso que diz o objeto.A Folha estaria com medo de desvalorizar definitivamente o produto? As chanchadas em torno do restaurante X e do Bar J.A.G. se tornariam impossíveis?A mitologia do grande homem perderia o seu curso? Ou o assunto tem pouco interesse?O que não tem interesse é a farsa das intervenções sucessivas do primeiro amigo do presidente se arvorando em vestal e Catão da República.Ele e o presidente sempre se entenderam bem. Quem conhece os métodos de J.A. Giannotti -os quais, guardadas as proporções, não são essencialmente diferentes dos dos aliados pefelistas do governo- sabe que isso tudo é uma mistificação.


Esse texto aí é um exemplo do tipo de polêmica em que orbita a figura do professor Gianotti. Que nossos "adolescentes" que combatem o "chauvinismo" da Coreia do Norte fiquem mais espertos quanto às suas fontes..


terça-feira, 1 de julho de 2014

Vídeo do professor Orlando Fedelli e resposta a Bronstein


Caro Bronsteyn:

Vi sua resposta a mim, até civilizada, mas que me acusa de várias coisas, entre os quais, "stalinista".  Sou apenas simpatizante do maoismo. Você diz que gosta de estudar sobre socialismo e comunismo e ainda é adolescente. Gosta de ler sobre Olga Benário, Alvaro Cunhal, etc. Que bom! Temos coisas em comum. Olga viveu no tempo de Stálin...

A seguir, você diz que decepcionou-se com o trotsquismo e a Escola de Frankfurt. Bom, fale mais sobre isso. Não acho seu argumento contra eles fundamentado. Você diz que "não é algo político". Ora, bolas, é sim. Ambos têm posições políticas. Sobre Frankfurt há vários textos nesse blog.

Depois de demonstrar ignorar Trotsky e os pensadores franquifurtianos, você passa a detratar Cristiano Alves, Grover Furr e Ludo Martens. Você me fala num tal "Jean Jacques Marie" (quem é?) E noto também que você não tem foto, você usa uma foto do Marechal Tito da Iugoslávia, personagem das mais controversas da história do movimento comunista internacional. Eu sou da opinião que Tito traiu o movimento também.

Infelizmente, o que tem saído das pesquisas de Grover Furr é isso, esse novo paradigma: Stálin democrata, Trotsky colaborou com os nazis, Kruschev mentiu. 

Não sei quem é Castan, não li, não posso julgar, mas não é um mero revisionista como um Tito ou  presunçoso professor Gianotti, que apresentou suas asneiras ontem no Roda Viva. Pelo que soube, é algo mais grave, ele é um NEGACIONISTA do holocausto. Não concordo. Escreva aí no seu caderninho, meu jovem que já quer julgar os jovens: "QUANTO MAIS VOCÊ SE AFASTA DE STÁLIN, MAIS VOCE SE APROXIMA DE HITLER!!!"

Algum maluco também me manda um vídeo de um tal Orlando Fedelli com propaganda anticomunista barata, dizendo inclusive que Franco era "socialista", Jango era comunista, a ditadura militar fez as leis de reforma agrária que agora Lula pratica (Hã? Quá quá quá! Nenhum deles fez reforma agrária, amigo). Não vou dar linque, porque não se pode dar linque para qualquer lixo. Mas pensar: aquilo é professor universitário??? Outro brinde é o artigo sobre as maravilhas do principado de Lichtenstein, que aplicaria a política econômica de Von Mises. Utopia, Marcos, utopia. O divertido foi o fato dele ter sido criticado: andam mandando ele ir para a Somália, vivenciar o capitalismo sem estado. Em suma: vá para a Somália e leve o Fedelli junto!