sábado, 16 de fevereiro de 2013

Coreia do Norte: alguns equívocos da imprensa



Lúcio Jr.

            Há grande interesse midiático em torno da Coreia do Norte ultimamente, que se manifesta numa campanha de difamação. As grandes potências (USA e seus aliados) precisam resolver o problema da superprodução de mercadorias e precisam aumentar a atividade econômica a qualquer custo, nem que se seja mediante guerras. E a imprensa segue os poderosos do mundo, preparando a guerra através de notícias distorcidas.
            Como uma dessas foi publicada no Jornal de Negócios, na coluna de meu amigo Ítalo Coutinho, sugiro a ele que olhe o outro lado quando se tratar desse assunto, pois é a própria paz mundial que está em jogo. A primeira parte de sua nota diz:

No final da Segunda Guerra, dizem as más línguas (...), que os americanos ficaram com os cientistas de Hitler e os russos com os projetos e protótipos, tudo isso relativo a foguetes e a bombas de alto poder destrutivo.

Isso é bastante inexato. Os americanos passaram a usar redes de espionagem de Hitler e reaproveitar agentes nazistas contra os comunistas, isso sim. Ficou provado que a rede de Reinhard Gehlen teve um grande papel na Hungria em 56. E a URSS não dispunha da bomba atômica quando a guerra acabou. Quando você escreve:

O Brasil tem projetos de foguetes, já lançou alguns e até 2025 vai colocar um satélite em órbita.

Como você tem tanta certeza? Já ocorreu um acidente em Alcântara, com vários cientistas mortos, pouquíssimo investigado pela mídia, justamente ao tentarmos lançar um satélite. Sim, precisamos de foguetes para lançar um satélite. A Coreia do Norte, graças ao socialismo, está bem adiante de nós nesse campo.
Os USA bombardearam Hiroshima justamente para pressionar a União Soviética. Também quando você diz:

A Coreia do Norte realizou na manhã do dia 12 de fevereiro seu terceiro teste nuclear, num claro desafio à comunidade internacional e a seu principal aliado externo, a China. O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) fará uma reunião de emergência para decidir como reagir ao novo movimento do regime mais isolado do mundo.

Você não é claro aqui e faz muitas inversões. O teste é, claramente, um aviso aos Estados Unidos e seus aliados de que, se bombardearem a Coreia do Norte, também serão bombardeados. Isso é direito básico de autodefesa. A hostilidade dos USA é em relação ao lançamento do satélite da Coreia, que é um ato soberano, mas o faz pressionar por mais sanções contra esse país, que não se isola, mas sim é vítima de provocações e agressões. Leia lá no blog solidariedade com a Coreia popular:

Na história de mais de 60 anos da ONU, se realizaram na Terra mais de 2 mil testes nucleares e mais de 9 mil lançamentos de satélites, mas não houve qualquer resolução do Conselho de Segurança que proibisse fazê-los.

Assim, eu sugiro que você olhe também o outro lado antes de redigir essas notas, visitando o blog Solidariedade com a Coreia Popular (solidariedadecoreiapopular.blogspot.com) antes de redigir essas observações equivocadas, inexatas e desatentas. Faça bem feito o trabalho que você está se propondo a fazer!
Outro texto que merece menção (mais breve, porém), é o texto O Amigo Norte-Coreano, da repórter da Folha Juliana Cunha. Na verdade, é um texto que relata sua visita à Coreia do Norte, um país que ela considera obviamente inimigo de seus patrões da Folha e de outros. Possivelmente abriram uma brecha para Juliana no “regime mais fechado do mundo”, não é mesmo?
E ela não deixou por menos. A imagem que adorna o artigo traz a legenda: “se for atacar primeiro, atire sem piedade” e mostra um soldado coreano explodindo a Casa  Branca. No primeiro parágrafo, Juliana transcreve a tradução que o seu guia coreano Che (versão ocidental de seu nome coreano) fez do texto do cartão postal para ela: “Se nos atacarem, faremos uma aniquilação impiedosa”. Juliana deve ter habilidades lingüísticas primorosas, pois parece ter aprendido coreano ao ponto de poder traduzir por sua própria conta a frase no cartão postal...Ou quem sabe ela não está de má fé, embarcando na inversão da imprensa ocidental, apresentando a Coreia, que é o agredido, como o agressor? Eu aposto nessa segunda alternativa.
O texto de Juliana seria para falar da primeira turma de português de Pyongyang, mas trata muito rapidamente disso, apenas para desqualificar: “não inclui lingüística nem literatura”. Ela curiosamente se revela quando vai ao balé de Pyongyang tendo Che como guia e vê uma passagem da peça onde a heroína nacional, Kim Jong Suk ergue as mãos amarradas com cordas para o alto, até conseguir romper os grilhões que prendiam os coreanos. Ao ver essa cena, Juliana, dá uma manota monumental e pergunta: “não seria engraçado se a luz acabasse justamente nessa cena?” Ao ouvir essa frase em que a bolha da repórter se mostra desrespeitosa e debochada, simplesmente desejando que os coreanos fossem escravos dos japoneses até hoje, o guia simplesmente ignorou a piada de péssimo gosto da jornalista e olhou para outro lado.
No final do artigo, Juliana lamenta que Che e ela não tenham se aproximado mais e sai afirmando que ele não tem e-mail, desconhece o google, não sabe o que é rede social, etc. Mas porque ele gostaria de manter contato com alguém que escreveu que ele “é a versão socialista do Quim Recadeiro, personagem de Guimarães Rosa” e ainda insultou-o, dizendo que deveria continuar sendo capacho, escravo? E ainda terminou dizendo bobagens sobre rede social. A julgar pela sua prosa brega e suas manotas, Juliana, você não serve para personagem de Guimarães Rosa. No máximo, uma versão jornalística moderna da Bolha do desenho animado Tu-Tubarão.

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