sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Revolução em amor e revolução

O que teria essa novela Amor e Revolução de efetivamente revolucionário? Eu creio que é somente o fato de ter separado a história dos hippies da narrativa dos militantes de esquerda dos anos 60. Como usualmente se mistura as histórias dos boêmios com as dos militantes, as novas gerações acabam confundindo e pensam que um maoísta é um seguidor de Marcuse. Esse ponto é o único onde se avançou desde a minissérie Anos Rebeldes, a meu ver.

A novela, após um início não muito alentador onde apresentava imagens de tortura e depoimentos chocantes de ex-militantes, encaminhou-se cada vez para uma orgia emocional onde uma das principais personagens, Jandira, é claramente inspirada na presidenta Dilma Rousseff. Mais significativa da trajetória e da mentalidade da personagem de Dilma, a meu ver, é a personagem que é cindida e tem dupla personalidade: o PT é esquerdofrênico, faz duplo jogo o tempo todo: fala em socialismo democrático e faz privatizações de aeroportos, mas em época de campanha diz que privatizar patrimônio público é crime.

Na novela, ficamos a par de estripolias sexuais de personagens como “Chico Duarte” e da personagem inspirada em Dilma Rousseff, mas da história do PCB pacifista nos anos 60 e 70, absolutamente nada.

Essa narrativa da revolução fracassada é, na verdade, muito recorrente porque é a história de uma parte da burguesia brasileira, que, diante da terra arrasada do liberalismo, passou para a esquerda armada. Mas como explicar que pessoas como Fernando Gabeira, Pimentel e Pérsio Arida, liberais que falam do período com mistificação e cinismo, mas mesmo assim fizeram luta armada? Penso que viram --corretamente --grandes perspectivas de poder a partir daquela luta, fosse ela bem sucedida ou não, sendo essa a razão maior de sua participação. Ou seja, o que os atraiu foi a perspectiva de poder, não o marxismo-leninismo.

A perspectiva da novela é social-liberal: a luta dos dominicanos e da igreja progressista é reduzida a uma pornochancada dentro da igreja, sendo que muitos sofreram imensamente, como Frei Tito (que suicidou-se em Paris). No geral, as discussões de conteúdos de esquerda viram farofa diante da ambiência "Dercy Gonçalves".

Mais curioso é uma parte da direita simplesmente passar a apontar o determinismo da estrutura por parte da superestrutura: o resgate do banco de Sílvio Santos determinou a compra de uma "novela petista". Ora, então as novelas da Globo seriam novelas tucanas? São concedidas a troco de quê? É possível que elas sejam também narrativas da história da burguesia, só que a narrativa histórica fica invisível.

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