quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Blognovela Revista Cidade Sol: O Nascimento de Hamlet



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(Cenário: teatro da Companhia Milkshakespeare. Explode a rivalidade entre os atores brasileiros que ficaram e os que fugiram para Londres. Pagando o desfalque brasileiro com o dinheiro do desfalque londrino, eles são aceitos entre os atores brasileiros, mas em punição foram obrigados a fazer um treinamento com o BOPE. Ofélia tornou-se uma agressiva lésbica masculina e Hamlet ficou a cara do Wagner Moura representando o Capitão Nascimento. Francinny, vendo a enorme confusão em que se meteu, tenta enxertar uma cena de Hamlet-Nascimento nas S. A. Fadas, mas o resultado é um grande briga entre duas fadas).

(O palco de S. A. Fadas). Chega o Capitão Hamlet Nascimento em meio ao diálogo das fadas com o Belo Adormecido, como se S. A. Fadas fosse a peça que existe dentro da peça Hamlet. O rei Cláudio vê S. A. Fadas e, constrangido, sai para rezar. Nascimento-Hamlet vai atrás e vê Cláudio rezando junto a uma santa, num cantinho do teatro de El Senhor.


Hamlet-Nascimento (vê Cláudio rezando): Cláudio, Cláudio, você não me escapa agora. Você é culpado de tudo. Dessa peça de merda que fomos obrigados a ver. Foram idéia sua os desfalques que fizemos aqui e em Londres, tudo culpa sua, vagabundo.

Cláudio (parando de rezar): Não, eu não. Foi do grupo, minha não.


Hamlet-Nascimento (pega Cláudio pelos cabelos): Foi culpa sua Ofélia ter se tornado lésbica! Você é uma biba, falô, seu rei do plágio, seu bosta. Você é a pica do aspira.

Ofélia chega, vestida como uma “tiazinha” bregachique, brandindo um chicote: Vai-te aos homens, não esqueça o chicote!


Hamlet-Nascimento e Ofélia dão uma surra em Cláudio, que sai berrando inocência. As S. A. Fadas terminam a peça e chegam para ver o que está acontecendo. Elas encontram o Fantasma do Pai de Hamlet.

Fantasma do Rei Hamlet: Eu quero que vocês façam um blog. Poderia se chamar Blog do Vamp.

Sandra Paucanhoto: Arrasou!!!

Blognoma Mulher Q. Kerr: Que coisa mais brega!! E comunidade no Orkut: “eu vi o fantasma do pai do Hamlet”, você não quer que faça não?

(O Fantasma desaparece. Entra uma mulher vestida estranhamente. É a Maga Lynguystyka, pitonisa do oráculo de Gargólios. Ela dirige-se à diretora da S. A. Fadas, Francinny, e começa a fazer uma crítica tão enigmática como sua figura).

Maga Lynguystyka: Francinny, você podia corresponder mais, fazer de um espaço uma possibilidades de troca de Cyber-Cultura. Mas, a questão da Histeria e o Inconsciente e as manias das pessoas das pessoas que falam SEM ´MÍNIMO de CONSCIÊNCIA do que fala , mas fala com seus NARCISOS E EGOS, é foda. Nessa coisa chata, aborrecedora q é ter q ler o Inconsciente mais q consciência das pessoas - e o pior é q a gente é escritora experiente em linguagem e literaturas como VOCÊ, - descobri que no fundo mesmo, VOCÊ e nós somos JORNALISTAS, mais que só escritores.
Ter que q encarar uma relação ONLINE e essas ferramentas com o objetivo de escrever para JORNAIS. E os jornalistas são super tranquilos, apesar de eu encontrar montes de "hiperativos e estressados". Mas, você mostrou q é uma perfeita JORNALISTA colocando com super critérios suas peças S. A. Fadas aqui. E tendo a paciência de aguentar como uma professora "driblar" O JEITO das pessoas escreverem, e os mal-entendidos, e a falta de PERCEPÇÃO. OH COISA CHATA!!!
Pior q a gente vê gente que tem puta currículo e a gente escreve coisas idiotas, sem pensar!! Nossa, só congelando essa gente mesmo, ou "contornando" tipo passando por cima ao invés de considerar. Não levar a sério. e muito HUMOR. Já tive recentemente experiência de 'energia ruim mesmo' de ler e falar com pessoas q deveriam ter uma boa linguagem, transparência e flexibilidade, mas não tem , e muito paciente, como meu psicanalista, eu passo por cima ,e ouço considero, e tento conversar, mas a conversa não rende, cara!! então, há milhões de pessoas novas que podemos encontrar e jamais teríamos esta "coisa pesada de ter q aturar" uma pessoa arrogante e egóica. E tái as novas ferramentas e inovações p nos ajudar.

Francinny (sem saber o que dizer, tentando pegar uma vírgula): E sobre a peça, gostou, né?

Maga Lynguystyka (voltando a falar): Então, há milhões de pessoas novas que podemos encontrar e jamais teríamos esta "coisa pesada de ter q aturar" uma pessoa arrogante e egóica. E tái as novas ferramentas e inovações p nos ajudar.

p te dizer a verdade, eu não gostei tanto ás vezes, quando rolou de sentar, pq AS S. A. FADAS não tem IMAGENS e RECURSOS .É só a LETRA o DISCURSO. Então, eu fico pensando.ah vou ter q deixar o link até passar p minha WINDOW etc etcetc .É esse tempo PRESENTE mais aqui e agora q desta NOVA INTERNET q dinamiza e desafia a gente a repensar o USO de cada DISPOSITIVO/FERRAMENTA aqui entende?

Francinny (tenta falar, sufocada): Então você...

Maga Lynguystyka: Pronto,é isso. Espero q vc mantenha seu e-mail. E que imigre p um NOVO VEÍCULO MEIO DE COMUNICAÇÃO melhor q vc se sinta com poder de intercãmbio profissional sempre e com seus amigos e amigas figuras públicas...sua grande REDE SOCIAL. beijos p o elenco de S. A. Fadas, Cláudio, Hamlet-Nascimento e toda família, byeeeee

Francinny (saindo da sala, um pouco saturada de tanto ouvir): byeeeeee!!!!

sábado, 20 de agosto de 2011

Blognovela revista cidade sol: S.A.Fadas no Reino de Troll

Cenário: o teatro de Elsenhor, meados de 2011. Francinny, com a dívida no exterior crescendo por estar com um empréstimo junto a Barack "Banana", resolve montar uma peça erótico-infanto-mitocomédia para ganhar dinheiro, chamada S. A. Fadas. O teatro lota. Ela fica na platéia observando as reações e vigiando Anonymus na bilheteria, temendo novo desfalque. Enquanto isso, a peça se desenrola no palco. No palco: Belo Adormecido e seus blognomos.


Blognoma Sandra Paucanhoto: eu quero mijar no seu rosto, Belo Adormecido.


Belo Adormecido (por detrás de uma redoma de vidro): Arrasou! De jeito nenhum, pervertida! Shrek!!!


Blognoma Sandra Paucanhoto: Menos pão de queijo, mais crucifixos!!! (diz ela eufórica, sempre defendendo uma causa conservadora, como o protesto contra o protesto contra a visita do Papa à Espanha).


Blognomo Bellaviola (feio e sujo): Lá vem o crítico de teatro Lancelot Eliodeia, o chato.

(Toda a tribo blognoma grita, escarnece, geme, vaia, ao mesmo tempo).

Blognoma Mulher Q. Kerr: Ele não aceita as regras sujismundas do reino Troll! Ele é contra nós! Cruel! Insistente! Renegado! Onde você estiver não estarei!

Belo Adormecido: Onde tiver mais de um de vocês, eu estarei no meio de vós.

Blognoma Mara Vilha: Somos ratas, mas seremos super-mulheres! Lancelot Eliodeia, eu te odeio, você poderia ser, seu bundinha seca, super ser, ser super mais do que essa sua coluna de crítica escrota!

Blognomo Dramatudo: Nossa, que fala forte. Eu queria um país só para mim, eu tenho que escrever, escrever, escrever, pois estou ficando louco, louco de vontade de adormecer no mesmo lugar que Belo Adormecido. Escrever um país só para mim, pois não suporto Elsenhor. Não suporto mais. Não consigo ir. Quero ir. Eca, eca, com Creta, com Creta, Electra. I can´t understand.

Blognomo João Grosso Jones: Yeah! Cai fora Lancelot, seu canalha. A guerra é a higiene suja do mundo Troll! Respeitem o Belo Adormecido, Fadas S. A.

Lancelot Eliodeia: Vocês querem só o beijo de Belo Adormecido, porque o beijo dele sai na mídia! Vocês cobiçam esse beijo-mídia, SAFADAS é o que vocês são!

Blognoma Mulher Q. Kerr: Não, estou borbulhando de amor por Belo! Eu olho os céus e fotografo Belo. Eu amo o belo e amo BELO! Amo Belo em si e fotografo o boneco de Belo, desfaleço por Belo, quero entrar na redoma de vidro e fazer amor com Belo! E você, seu criticuzinho de merda, seu parasita. Você vive vampirizando os artistas e produzindo suas merdas de colunas!

(De súbito,entram o elenco original de Hamlet, da Cia Milkshakespeare, vindos de Londres, onde tinham dado um desfalque. Francinny se enfurece).
Hamlet (sorrindo amarelo para Francinny, recita solene): Brazil, Fran, oh, this is the very ecstay of love...

Francinny: PARA A INGLATERRA JÁ! E QUERO MEU DINHEIRO DE VOLTA! DINHEIRO QUE VOCÊS ROUBARAM!

Hamlet: O mundo está fora dos trilhos! Maldita sorte! Nasci para colocá-lo em seu destino! (Sai empurrado aos gritos pela diretora).

Francinny (fala para os atores ao sair empurrando os atores): Quem disse que o teatro não era também uma câmara de tortura!!! Fiquem aí no palco que eu já volto para vigiar vocês, hein?

(O elenco das fadas, fica olhando, medusado, perplexo).

Dramatudo (eufórico): eureca, eureca, electra com Creta! Vamos encenar isso! Adorei! Foi como se o elenco de Sai de Baixo adotasse uma luz e figurino dark- emo-chic e encontrasse um encenador de uma estética trem fantasma!!! (Perplexidade entre o elenco da S. A. Fadas).














terça-feira, 9 de agosto de 2011

QUEBRANTOS, RELANCES E ABISMOS VISTOS À LUZ: notas sobre a poesia de Wilson Nanini






Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

RESUMO


Esse artigo busca analisar a poesia de Wilson Nanini. Ao abordar um poeta ainda inédito no formato livro, editado apenas no hipertexto, o artigo assume a tarefa de apresentar esse autor, para em seguida focalizar a análise nos recursos poéticos por ele utilizados, ainda que de forma breve, buscando nem tanto um estudo aprofundado quanto uma apresentação crítica dessa obra nascente. Esse artigo representa um estudo pioneiro dos poemas desse talentoso artista, aguardando tanto sua publicação em livro quanto a edição em texto de seus poemas, visando ainda maiores estudos no futuro. Com os estudos sobre sua poesia ainda incipientes, mas já dando entrevistas e sendo objeto de artigos de outros poetas, Nanini atualmente publica seus poemas pela web através de revistas literárias e blogs.


Palavras-chave: poesia, Wilson Nanini, hipertexto, crítica literária, blogs, Botelhos


1 INTRODUÇÃO


Desde que lançou seu blog na rede mundial de computadores, em 2007, o poeta Wilson Torres Nanini vem chamando a atenção de diversas pessoas, entre elas, poetas conceituados e de renome e que exploram este moderno mundo das letras.
Intitulando-se um poeta em fase de berçário, Wilson Nanini busca nos versos de “Quebrantos, relances e abismos ao relento”, seu primeiro livro de poemas (e que permanece inédito em papel), uma poética que oscila entre o sagrado e o profano. Ainda pouco conhecido, o poeta mesmo se intitula “um poeta em fase de berçário”. No entanto, ele não é poeta aprendiz e já se apresentada dotado de maestria no terreno da palavra poética.
Wilson Nanini, nascido em Poços de Caldas, mas criado desde o berço em Botelhos, chegou a cursar Letras na Faculdade de São João da Boa Vista, mas, após fazer um curso para soldado da Polícia Militar, em Lavras, teve que abandonar a faculdade, só voltando para Botelhos em 2007.
E foi em ambiente familiar da pequena cidade de Botelhos, junto de sua mãe e suas tias, todas as professoras, que Wilson Nanini teve seus primeiros contados com a literatura. Livros de fábulas e de histórias cotidianas moldaram sua veia poética. Morando numa cidadezinha de dezesseis mil habitantes, Nanini tem como leitora sua esposa, sempre a primeira leitora crítica de seus poemas. Graças à internet, estabeleceu contato com poetas tais como Cláudio Daniel, Renato Mazzini, José Aloise Bahia e Micheliny Verunschk, por exemplo, cujos contatos foram tão fundamentais para seu aprendizado, tanto quanto seus versos.
No Ginásio, incentivado pelas professoras, Divina Moreira, Silvana Siqueira e Márcia Frazão, Wilson Nanini começou a colocar no papel seus primeiros versos. O poeta narra ter começado fazendo letras de músicas para uma banda, formada por amigos, inspiradas principalmente na poesia de Renato Russo, da Legião Urbana. Assim, fui aperfeiçoando e buscando nas referências nas letras do Renato, como por exemplo, os poetas Arthur Rimbaud e Carlos Drumonnd de Andrade. Em 2000, participou do Concurso de Poesia Falada da cidade de São Paulo, promovido pela Prefeitura e pelo Instituto Mario de Andrade. Ficou em segundo lugar, com a poesia O corpo cervo corpo.
Em 2001, na cidade de Machado participou do Primeiro Concurso Plínio Motta de Contos e Poesias, promovido pela Academia Machadense de Letras, no qual foi premiado com a edição em livro com o conto Farfalhas de coisas ambíguas. No Rio de Janeiro também participou de um concurso de poemas promovido pela Editora Líteres, cujo 20 melhores poemas, incluindo o seu, foi publicado em livro. Segundo Wilson Nanini, todos estes anos de leitura e produção resultou em uma coleção de poemas que já tem um destino certo: o livro “Quebrantos, relances e abismos ao relento”, que mesmo ainda sem data e edição para ser apresentado ao público, traz toda sua verve literária, trazendo a poesia como forma lúdica e de descarrego. Os “quebrantos” estão ligados ao sagrado e ao profano, das rezas, das benzedeiras, dos mal olhados, das curas do corpo e da alma. Relances são as cenas cotidianas, da sua vida como filho, marido, o poeta com o seu olhar mais singular. Os abismos aos relentos trazem toda sua vivência como soldado militar, que faz das letras e formas um ato de purificar a si mesmo.
Entrevistado pelo escritor e poeta Marcelo Novaes, em seu blog, Wilson se define como uma pessoa, até certo ponto, melancólica, nostálgica. Devedor da ancestralidade, da própria e da alheia, detém gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida. Enquanto policial militar, o poeta lida com a morte alheia e com a possibilidade da própria morte, rotineiramente. Centenas de vezes esteve diante de pessoas com arame farpado e sangue nos olhos. Como se estivesse produzindo artesanalmente um bálsamo, um considerável número de seus poemas foi esboçado de manhã, após noites de intensa labuta de seu ofício profissional. Seus poemas remetem, então, aos poderes curativos e angelicais das palavras desse poeta-guardião.


2 A POESIA ENTRE ABISMOS E QUEBRANTOS


Wilson é um poeta do extravio. Para falar utilizando a conceituação de Ezra Pound, que divide os tipos de poesia em fanopeia, melopeia ou logopeia, pode-se dizer que os poemas de Nanini ficam entre o primado da imagem (“fanopeia”) e do ritmo e da musicalidade (“melopéia”) mais do que o pensamento disposto nos poemas (“logopéia”). Não há tanta intelectualização em seus poemas, há uma entrega aos sentidos e ao mundo como um fenômeno estético. O mundo subjetivo e objetivo, em especial a natureza e esse eu do poeta, derramam-se frequentemente um no outro. Aliás, essa seria a metáfora preferencial do amor em seus poemas. O poeta é como um toureiro que é muito hábil e muito elegante em lidar com os touros, mas detesta a violência e a vulgaridade da tourada:

O Touro

o touro em seu arfar
de provocada fúria
mal sabe do espetáculo
de seu destino de carne crua

o touro,confinado entre touros,
conhece-se e se basta
– embora seu dia fareje
o martelo do abate

máscula fera/bela humilhada pelas
lições da infecção da castração

pelos ferrolhos
(arame farpado e ferro em brasa)

agora, a meio-instante da
perícia do cutelo, o touro
– acaso, com seu berro reza? –
com as narinas dilatadas para
farejar o prazer de outras épocas (NANINI, 2010).

A escrita dele dá a sensação de precisão e de entendimento, embora muitas das imagens sejam enigmáticas, tais como as “facas da sina” (em Espólios de Infância) e os “obstetras de contêineres” (em Interferência Urbana). Por vezes, ele se utiliza de sinestesias tais como “penumbra rosa”, por outras, um simples substantivo adjetivado de forma inusitada: “cerâmica inepta” (ambos em “Desdonzelamento”). Nota-se, então, que há em sua poética uma busca de uma simplicidade que ao mesmo tempo possa ser complexa e não simplória (NANINI, 2010).
A poética de Nanini é a de um poeta do extravio. Ele combina substantivos com adjetivos inusitados de forma a causar estranheza. A escrita dele dá a sensação de precisão e de entendimento, embora muitas das imagens sejam enigmáticas, tais como as “facas da sina” (em Espólios de Infância) e os “obstetras de contêineres” (em Interferência Urbana). Por vezes, ele se utiliza de sinestesias tais como “penumbra rosa”, por outro, um nome adjetivado de forma inusitada: “cerâmica inepta” (ambos em “Desdonzelamento”). Nota-se, então, que há em sua poética uma busca de simplicidade que ao mesmo tempo possa ser complexa e não simplória. Mas qual a natureza dessa complexidade? A essa altura surge-nos a pergunta: Wilson Nanini seria barroco? Se considerarmos as afirmações de Omar Calabrese, sim:

Por ‘barroco’ entenderemos categorizações que ‘excitam’ fortemente a ordenação do sistema e que o desestabilizam em algumas partes, que o submetem a turbulências e flutuações e que o suspendem quanto à resolubilidade dos valores (CALABRESE, 1988, p. 39).

Wilson Nanini “desestabiliza” um modo de ver e sentir o mundo, criando uma obra que, tomada no seu conjunto, propõe uma nova ordenação da sensibilidade, sem deixar de produzir (através dessa nova ordenação) um sentimento de caoticidade (entendendo caoticidade como imprevisibilidade ou ininteligibilidade da informação estética) no momento da fruição dessa obra. Essa caoticidade é provocada justamente pela superposição das informações advindas dos poemas, que se configuram como labirintos de espelhos. Ao tentarmos compreender a lógica de um dos espelhos, o outro espelho modifica e complexifica a informação daquele, e assim ad infinitum (falar na poesia wilsoniana equivale a mergulhar num atordoante labirinto de espelhos). O labirinto, novamente segundo Calabrese, é apenas uma das formas do caos, entendido como complexidade, cuja ordem existe, mas é complicada ou oculta. Essa ordem "oculta" produz a perda do referencial acarretando o que Calabrese chama de "prazer da obnubilação", ou seja, o prazer de ver-se perdido e ser instigado a encontrar o centro do labirinto. O prazer motivado por essa desorientação e pelo "mistério do enigma" parece-nos semelhante ao prazer sentido por nós ao nos defrontarmos com a obra de Wilson Nanini (CALABRESE, 1998, p. 39).
Diante da criação labiríntica do autor de Quebrantos, os pontos de referência turvam-se e ocultam-se, fugindo de nossas mãos qualquer fio de Ariadne e causando em nosso espírito o prazer intelectual de descobrir uma ordem onde aparentemente não existe nenhuma, só caos e mistério. Novamente, seguindo Calabrese, poderíamos dizer que o labirinto wilsoniano cria um "saber aberto", posto que em seus meandros e intersecções podemos sempre descobrir novas ramificações e caminhos para novos e surpreendentes significados, deixando o leitor sempre sujeito ao risco da perda de orientação (CALABRESE, 1998, p. 39).
Para traçar essa simplicidade, os poemas encontram o sagrado no banal e o que há de cru naquilo que há de aparentemente sagrado, como nas freqüentes referências bíblicas e católicas de que se valem seus poemas, apontando, no entanto, para o catolicismo popular, onde há o contato direto com a divindade, deixando de lado intermediários e sacerdotes. A poesia é praticada, por Nanini, como um sacerdócio do extravio, uma “cerâmica das coisas simuladas”, como no poema “Lâmpada” (CALABRESE, 1998, p. 39).
E a poesia de Wilson transmite a impressão de alguém criando esculturas sublimes utilizando somente um barro ao qual ele atribui a leveza do sagrado, tal como nos quadros do artista contemporâneo vietnamita Duy Huynh, que representa um homem de chapéu vestido com formalidade, à la Magritte, mas com um carrossel infantil girando, transbordante, na cabeça. Alguns poemas misturam religiosidade e sensualidade com mitos universais, vendo a eternidade nos objetos e imagens mais transitórios ao mesmo tempo em que reafirmam o prazer dos sentidos como algo profundamente não superficial e sim sagrado (CALABRESE, 1998, p. 39).
Wilson é um poeta “ainda não de todo tocado de espelho e idioma", tateando a imagem-voz poética, ensaiando domar tempestades. Diante da tangibilidade do mal no mundo, o poeta responde que essa presença do mal provoca a poesia, a intima à sobrevivência, ainda que espremida entre uma rotina aterradora e alentos cada vez mais ineficientes (VERUNSCHK, 2010, p. 1).
O pano de fundo dessa poética de quebrantos é a quebra das instituições sociais, à constatação da falência de alicerces, antes imprescindíveis, e à tentativa frustrada de restaurar a espiritualidade religiosa dada à bancarrota, já há algum tempo. E diante desses impasses, o poeta, assim como os demais artistas, assume uma obrigação – quase social – pois testa em si ferramentas de transcendência, um caminho novo que perpasse ciladas, que perfure cegueiras, que dissolva obstáculos. Poesia é a possibilidade que ele tem de tirar o mérito do caos, interagir com as intempéries numa linguagem mágica, mítica, em pé de igualdade. Os poemas de Wilson são atos de solidariedade: só existem porque o poeta quer pôr no mundo o antídoto, a vacina que destilou dentro de si, de que foi a cobaia. Um de seus poemas, por exemplo, trata da alegria de ver uma mulher procurando a sombrinha pela casa. Esse pequeno encontro é algo sublime, é a esperança do encontro na vida, embora haja tanto desencontro no mundo:

Preces de um poeta em fase de berçário
que onde houver fronteira,
eu tenha muita asa!
que Carolina consiga encontrar
sua sombrinha cor-de-rosa
perdida pela casa!
pois, antes, em mim havia
um acúmulo de silêncios,
uma demora profunda
do punhal no peito,
uma dor-dor como a de um
caminhão de crianças
caindo na ribanceira,
mas hoje nada temo:
nem um trem de ferro dentro da insônia
nem um avião dentro da turbulência
embora eu não me veja como
um deus lembrado
das coisas ainda não-inventadas,
vou sendo um poeta impublicável:
à beira de ser tudo,
consigo ser só
quase
– embora, por vezes, feliz
como o primeiro cego
a ouvir gramofone (NANINI, 2010).

Poemas que falam do cotidiano são uma constância inevitável e muito apetecível na poesia de Nanini, cuja poesia tenta se dissociar de um discurso literário rebuscado – e, por vezes, vazio – e da visão caolha de que o poeta é o porta-voz do enlevo. O rumor de um avião captado em meio à insônia, a mulher correndo ao varal para salvar peças-íntimas da chuva, abraços recebidos da avó, sua esposa procurando sua sombrinha cor de rosa, e tantos outros sinais de superfície simples de sua poesia, mas que é, em seu cerne, riquíssima, aceita os oferendas que o mundo acena ao poeta, e elas, depois de deflagradas, passam a habitar nele, num lugar entre pele e alma e, além de lhe fornecerem um bom material poético (CUNHA, 2011, p. 1).
Guimarães Rosa dizia que escrever é um ato de empáfia, enquanto publicar requer humildade. O poeta, matéria escassa, concilia, na alma, "pedra e vidro", silêncio e petardo. Sua poesia se alimenta da sintaxe de riachos, falas feitas de uma mistura de arame farpado, roseiras e poentes, rezas de benzedeira, totens domésticos, gemidos de facas. Pois um poeta é um poeta em qualquer âmbito: a noite o habita. Wilson Nanini é uma pessoa, até certo ponto, melancólica, nostálgica, um devedor da ancestralidade, da própria e da alheia. Detêm um gosto ao saudosismo, mas apenas pela alegria já vivida (VERUNSCHK, 2011, p. 1).
Em termos de afinidades poéticas, demonstra paixão preponderante pela poesia criada por poetas mulheres: Adélia Prado, Orides Fontela e Micheliny Verunschk estão entre os cinco poetas que mais visita. Os outros dois são Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade. A mulher católica fervorosa tornou-se, para ele, um par perfeito para o comunista de Itabira. Ele parte de uma premissa familiar católica, já devidamente abandonada, e a poesia de Adélia, repleta de nudez e Bíblia, encontrou nele terreno propício para inspirar-lhe a eclosão de uma nova poética. Quem sabe seja aí, nessa comunhão onde os dois poetam copulam “catecismos e assombros”, esteja seu ponto de contato com Adélia Prado. Ele chega até a dedicar-lhe um poema em homenagem a esse conúbio em verso:

Poema para Adélia Prado

Estrelas!
no pomar celeste da boca conso-
lidá-las
foto-
grafar o avesso
da treva do ventre do ferro do trem de ferro
convertido em sentimento

o hieróglifos
numa brancura fecunda
de constelar escuros,
de transgredir o tempo

mas recito insonte-
mente: besouros são
sementes
de rinocerontes;

o lunático com um guarda-chuva,
a virgem com uma cabaça,
a beata com um calvário
atravessam a nado meu poema

num olor inato interno que mescla
bois borboletas
Deus: todos os
artefatos álacres
de escavar cosméticos
entre distúrbios
que concretos ou telúricos noitinvadem-me às vezes (NANINI, 2010).

Os poemas, mesmo os Poemínimos, possuem um "ritmo de procissão". Lendo-os, não há como não ouvir como que uma sanfona ao fundo, um coro de beatas ou ladainhas, haja ou não andor, ainda que o tema do poema seja uma procissão de insetos em direção a um cadáver. A poesia de Nanini tem como fundo uma musicalidade do interior mineiro: folia de reis, banda de coreto, fanfarra, circo, procissão de santos, desfiles cívicos, sanfonas e violas. Sua poesia é filha de tudo isso: é um circo em plena missa, uma missa em plena orgia, uma orgia em plena ciranda, uma ciranda em plena procissão (VERUNSCHK, 2011, p. 2).
Alguns poemas misturam religiosidade e sensualidade com mitos universais, vendo a eternidade nos objetos e imagens mais transitórios ao mesmo tempo em que reafirmam o prazer dos sentidos como algo profundamente não superficial e sim sagrado. Não há tanta intelectualização em seus poemas, há uma entrega aos sentidos e ao mundo como um fenômeno estético. O mundo subjetivo e objetivo, em especial a natureza e esse eu do poeta, derramam-se frequentemente um no outro. Aliás, essa seria a metáfora preferencial do amor em seus poemas (NOVAES, 2011, p. 2).
A respeito da poesia de Wilson, pode-se dizer que se trata de uma poesia madura, que encontrou sua voz e estilo próprios. Muito embora ele se refira a Michelyni Verschunk e Adélia Prado com admiração, sua lírica é muito própria e independente. Sua poesia tem imagens leves e com colorido. A forma como compõe cuidadosamente seus versos curtos e a separação de sílabas no enjambement é pessoalíssima. É uma poesia que expressa emoções de forma contida e intensamente trabalhada em seu artesanato poético. Ele apresenta preferência por palavras fetiche: “orquídea”, “borboleta”, “rosas”, palavras relativamente comuns em contexto lírico, mas que nas mãos de Wilson adquirem significado bastante diverso em cada poema, significado, aliás, que muitas vezes surpreende pela criatividade e pela associação misteriosa que sugerem. Outro tema que o fascina é o labirinto; sua poesia é, mesmo quando ele faz um poema que é de amor, claramente, é barroca e labiríntica. Muitas vezes, o poeta usa uma combinação hermética das palavras. A poesia de Wilson é bem mais barroca e labiríntica do que cartesiana e seca. O poeta utiliza-se do paradoxo: a febre é normalmente anúncio de uma doença e não pode ser dócil nem partilhada. Nanini utiliza-se de combinações inusitadas entre palavras, da ironia, do contraste e das antíteses (que também fazem lembrar o barroco). A “cópula de catecismos e assombros” também se mostra profícua com Micheliny Verunschk, como nesse poema dedicado a essa última poeta:

Melancolia

luz lâmpada de torre telefônica
– a escureza dissimula o pedestal que a sustenta –
e vermelha verde vermelha amarela
(intermitente farol/sentinela
de pássaros insones/sonâmbulos
de aviões desgovernados/incautos)
paira: pseudo-astro alumbrado

ah meus cantares – policio
cata-ventos pipas em céus de ferrugem
: a alegria, devagar,
acata seus carrascos

e a cidade envolta em
catástrofes sem reparo
: próteses dentárias extraviadas
relógios de pulso abduzidos

eu – poeta (matéria
escassa)? – nasci para
conciliar pedra e vidro

mas percorro uma distância subterrânea
subcutânea
subterfúgica
e o mundo (tudo tudo!) –
esta manhã vai ficando
cada vez mais noite ampla (NANINI, 2010).

O poema acima, em sua primeira linha, apresenta uma sequência sem preocupação gramatical, para enfatizar a urgência: “luz lâmpada de torre telefônica”. A seguir, ele se desenvolve em uma sequência sobre a tristeza solitária de um amanhecer numa cidade sem nome. A frase seguinte intercala-se comentando a escuridão que faz com que a luz pareça estar flutuando. Assim, encontra-se em Melancolia um poema típico da lavra wilsoniana. Entre seus recursos já citados anteriormente, ele experimenta outro: como Drummond, ele aproxima a palavra do próprio signo, que é um sinal de trânsito: “vermelha, verde, vermelha, amarela”. Assim, faz com que o ritmo das palavras imite a mudança de cores no semáforo luminoso, como se as palavras fossem o próprio objeto que elas têm como referente. A frase intercalada, além de introduzir uma quebra no ritmo do poema, introduz um neologismo: “escureza”. A primeira linha relaciona-se com a terceira. As duas frases têm, em comum, o fato de se organizarem mais pela semântica do que por sinais de pontuação. Com esse poema, Nanini demonstra habilidade para, ao mesmo tempo, copular assombros e catecismos, pedra e vidro, o canto para alegrar a cidade e o duro ofício de patrulhá-la. O poeta também policia “pipas e cata-ventos em céus de ferrugem”, num verso que define tanto sua criação quanto, de certa forma, seu diálogo com o diferente (no caso, o feminino) e, de certa forma, também o autor no sentido biográfico (NOVAES, 2011, p.1).



CONCLUSÃO


Os poemas de Nanini estão em constante transformação, ele os trata a poder de faca, a corte impassível. O que se analisou aqui é apenas uma amostra, realizando uma apresentação mais que necessária do poeta na forma de um artigo acadêmico. O blog é um modo fantástico de expor aos olhos alheios o avesso transformado em palavras. E, consequentemente, de aferir sua relevância, diante de observações muito, muito pertinentes. Alguns dos poemas (em especial os da primeira safra) que foram publicados em meu blog já tiveram toda sua estrutura modificada. O poeta acredita em uma obra dada pela vida. Sua poesia nasce da pedra bruta: há poemas que vem trabalhando há anos, e, não raras vezes, pouco após achá-los bem esculpidos, se percebe algum lapso, ele os “despoema”, os dilacera rapidamente.
Wilson Nanini, afinal um poeta de 28 anos, traz em seus poemas uma carga de paixão que é bem a cara da juventude em processo de descoberta – e desilusão – do mundo. Para traçar essa simplicidade, os poemas encontram o banal no sagrado e o que há de cru naquilo que há de aparentemente sagrado, como nas freqüentes referências bíblicas ou católicas de que se valem seus poemas, apontando para o catolicismo popular, onde há o contato direto com a divindade, deixando de lado intermediários e sacerdotes. A poesia é praticada, por Nanini, como um sacerdócio do extravio, uma “cerâmica das coisas simuladas”, como no poema “Lâmpada”. Como no catolicismo popular, é sem cerimônia que Nanini se refere ao sagrado. E sua poesia transmite a impressão de alguém criando esculturas sublimes utilizando somente um barro ao qual ele atribui a leveza do sagrado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CALABRESE, Omar. A Idade Neobarroca. São Paulo, Martins Fontes, 1988.


CUNHA, Pedro. Pensamentos e outras letras. Disponível em: >. Acesso em 17 de junho de 2011.


VERUNSCHK, Micheliny. O cotidiano sagrado da poética de Wilson Nanini. Revista Cronópios. Disponível em: . Acesso em 19 de junho de 2011.

NOVAES, Marcelo. Nota de rodapé. Disponível em: . Acesso em 16 de junho de 2011.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Desafio: Cinzas e Diamantes


O filme Cinzas e Diamantes, uma produção polonesa de 1958 dirigida por Andrej Wajda, passa-se em 1945, no último dia da guerra, narrando a vida de um jovem mercenário (Marciek) que é contratado por uma organização de direita para matar um líder comunista em uma aldeia. O guerrilheiro cai de amores por uma garçonete e começa a pensar em desistir de sua vida de combatente. A narrativa foi criada no contexto de subida ao poder de Kruschev na URSS, que resultou na afirmação dos chamados “comunistas-nacionais” de Wladislaw Gomulka. Daí que Wajda deixa explodir seu nacionalismo. Marciek, quando é atingido por uma bala, limpa o sangue num lençol em branco estendido num varal. O filme é em preto e branco, mas dá claramente para imaginar a bandeira polonesa (branca com vermelho ao centro). Posteriormente, quando entra numa igreja em ruínas com a moça por quem está apaixonado (o plano é dividido pela imagem do Cristo caído), Marciek encontra um poema em meio aos destroços:

CINZAS E DIAMANTES

Freqüentemente você é como uma tocha de fogo
Com fagulhas caindo sobre você
Flamejante, não sabe se o fogo liberta
Ou leva à morte,
Consumindo tudo o que você mais gosta
Apenas as cinzas restarão e o caos
Remoendo dentro de um eco

Ou as cinzas irão ocultar
A glória de um diamante estrelante,
A Estrela da Manhã
Do triunfo permanente

Cyprian Norwid

Eu descobri uma cena bastante parecida em O Desafio, filme de Paulo Cesar Sarraceni, possivelmente inspirada em Cinzas e Diamantes. O Desafio, produção brasileira de 1965. Primeiro filme a contestar a ditadura militar, o filme gira em torno da paixão de Marcelo, estudante de esquerda (Vianinha), pela esposa de um industrial (Isabela). Os dois simbolizam uma aliança entre o Partido Comunista Brasileiro e a burguesia nacional progressista (os empresários, como Wallinho Simonsen, que apoiaram Jango). Depois de 64, os empresários que apoiaram Jango desaparecem de cena, pois são punidos: Wallinho Simonsen perdeu a concessão de sua TV de então, a TV Excelsior, assim como sua empresa de aviação, a Panair, também teve sua falência decretada. Na belíssima cena, Marcelo e Ada visitam uma casa em ruínas, encontrando-se às escondidas. Ele encontra um livro e lê os seguintes versos:

INVENÇÃO DE ORFEU

VI

Também há as naus que não chegam
mesmo sem ter naufragado;
não porque nunca tivessem
quem as guiasse no mar
ou não tivessem velame
ou leme ou âncora ou vento

ou porque se embedassem

ou rotas se despregassem,

mas simplesmente porque

já estavam podres no tronco

da árvore de que as tiraram, (...).

Estão aqui as pobres coisas: cestas esfiapadas,
botas carcomidas, bilhas arrebentadas, abas corroídas

com seus olhos virados para os que
as deixaram sozinhas, desprezadas,
esquecidas com outras coisas, sejam:

búzios, conchas, madeiras de naufrágio
penas de ave e penas de caneta.
e as outras pobres coisas, pobres sons
coitos findos, engulhos, dramas tristes
repetidos, monótonos, exaustos,
visitados tão só pelo abandono,
tão só pela fadiga em que essas ditas
coisas goradas e órfãs se desgastam.


Jorge de Lima

Uma cena de Cinzas e Diamantes:


Para ver a cena no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=fdDo-gDkCFo&feature=related



sábado, 6 de agosto de 2011

Hospício é Deus: homenagem a Maura Lopes Cançado

Vídeo produzido na oficina de documentário com o professor Sérgio Villaça:


http://www.youtube.com/watch?v=QNIPhrK5zYY&NR=1


O vídeo transpõem em imagens fragmentos da obra e da vida de Maura Lopes Cançado, escritora importante pilotou avião aqui no bairro São Vicente (então um aeroporto) nos anos 40, Maura era parente da família Lopes Cançado da cidade e originária de São Gonçalo do Abaeté. Ela então morava em Bom Despacho e dividia sua paixão por aviação com Jair Praxedes, filho do famoso coronel Praxedes. Maura não conseguiu
tirar brevê (um tabu para as mulheres nos anos 40), mas fixou-se no Rio de Janeiro, onde trabalhou no jornal Correio da Manhã e fez carreira de escritora.

No Rio, conheceu artistas tais como Tonia Carrero. No entanto, Maura sofria de transtornos mentais e vivia entrando e saindo de internações. Em crise, dilapidava heranças, brigava com os amigos, perdia empregos. Bem mais depois da morte do que em vida, ela escreveu apenas dois livros agora fora de catálogo, Hospício é Deus e O Sofredor do Ver, mas em 1993, quando faleceu, foi comentada em artigos por Carlos Heitor Cony, Reinaldo Jardim, Nelson de Oliveira e Ferreira Gullar, entre outros. Já existem pelo menos duas dissertações de mestrado sobre sua obra.

Uma informação sobre ela na ABL (dentre os inúmeros sites que a citam):

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=5587&sid=571&tpl=printerview

Olhem como são lindos os textos dela e que estão no Hospício é Deus (livro
que conheci ao ler um livro do letrista Torquato Neto, da tropicália):

“Hospício são flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em
escadarias de mármore antigo, subitamente futuro. (...) Hospício é não se
sabe o quê, porque Hospício é Deus.”

“Existo desmesuradamente, como janela aberta para o sol. Existo com
agressividade.Que emoções escandalosas tenho dentro de mim: é que às vezes
tudo ameaça precipitar-se, minto para mim mesma, não sei para onde dirigir
estas emoções. Minha consciência da inutilidade de tudo mata-me. Esta
incapacidade de sofrer torna-me árida, vazia – (...) invento-me a cada
instante.”

O vídeo do youtube tem uma foto de Maura em sua juventude.

Sobre Marina e Lula e a "norma culta"

Desde que presenciei, em um supermercado de Juiz de Fora, uma mãe corrigindo sua filhinha ("Não é ´pûr favor', é 'pôr favor'", dizia a mãe) deixei de entrar em discussões sobre "O que se fala é diferente do que se escreve".
Juiz de Fora talvez seja uma cidade universitária e culta demais para os padrões brasileiros, mas não vem ao caso...
Apenas gostaria de ressaltar que Caetano, em entrevista a Jô Soares, por esses dias, comparou o "falar errado" do Lula (e suas circunstâncias políticas) ao ato de falar, seguindo extremamente a norma culta, de uma brasileira que foi alfabetizada aos 16 anos (e também teve suas circunstâncias de formação de caráter): Marina Silva.

Giuliano Martins Massi


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Caro Giuliano: essa situação que você presenciou deveria ser seu ponto de partida, pois a mãe está fazendo uma tolice. Se a criança fala de maneira informal, provavelmente está imitando a fala da mãe, que por sua vez quer que ela fale como um livro.

Eu vi essa entrevista de CaeTUCano. A posição dele com relação a Lula é partidária, por isso a postura burra de chamá-lo de analfabeto. Ele tem as posições de Jô, que é a visão da Globo, que é a visão que predomina na mídia, que é a da gramática normativa.

Quanto a Marina, sinceramente não gosto do discurso dela. Acho voltado para a classe média e prefiro a clareza pontual de Plínio Sampaio em prol dos movimentos sociais, embora não tenha votado nele e sim, de alto a baixo, no PCB.

Tucanos tendem a preferir Marina que Lula. E Marina, é claro, por sua origem de classe, sabe falar o português informal também, mas como informo acima, ela se dirige à classe média e seu esforço foi em seduzir as bases petucanas na última eleição. Caetano está embevecido, pois em geral quem tem simpatias tucanas pode não aceitar Serra e preferir Marina. Caetano também está encantado com Aécio Neves. Aécio é lindo, Serra é feio.

Agora, gostaria que alguém estudasse as falas dela para saber se fala "extremamente de acordo com a norma culta". Creio que é essa afirmativa é falsa, porque a norma culta dos brasileiros abrange construções como "deixa eu dançar", "beija eu", construções não aceitas no português padrão, muito ligado a Portugal, que você deve estar chamando de "norma culta" e que é ensinado na escola.

O que é lamentável em Marina é que ela tem um problema sério com partidos. Ela não resiste a parti-los. Ela rachou com o PT e foi para o PV; no PV exigiu a retirada do casamento gay e da liberação das drogas, o que provocou o racha do Partido Livre; e recentemente Marina rachou com o PV e, quem sabe, irá para o Partido Ecológico Nacional. Também há quem me diga que ela criará um novo partido brotando diretamente de um movimento social a ser convocado por ela. Será, então, o quarto partido ecológico brasileiro.

Assim, o tópico "ecologia" em política estará tão rachado quanto o assunto "comunismo". Sim, pois temos agora quatro pcs: Partido Comunista Brasileiro, Partido Comunista do Brasil, Partido Comunista Revolucionário e Partido Comunista Marxista-leninista.

Eu acho isso bom? Não.