domingo, 10 de abril de 2011

Uma Análise da carta do atirador Wellington

Num esforço de domar minha repugnância, tento analisar o texto deixado pelo atirador Wellington.

Vi análises pobres desse texto na web. Umas tentam aproximá-lo ao Islã, outras, do pessoal do campo "psi", tentam enquadrá-lo em patologias ou absolvê-lo de outras.

Wellington, o mestiço de classe média baixa do subúrbio excluído da Globo e do Big Brother, que não vive na Zona Sul e não transa belas artistas da Globo, é quem vem anunciar, com seu culto da morte, que já chegamos no estágio da barbárie tecnológica imperialista. O Brasil é um país "desenvolvido", enfim.

Em primeiro, a mídia jamais se denunciará, então é preciso denunciá-la: foi a comunicação de massa que alimentou o desejo de encher as "telinhas" com uma chacina diretamente importada de Columbine, nos USA. Antes de mais nada, Wellington apresentou a cabeça colonizada, o desejo desesperado de aparecer com um feito nas telinhas, ainda que um feito horrível.

Rodrigo Pimentel, Beltrame, Padilha, o Rio de Janeiro com sua guerra entre milícias, traficantes e PM corrupta criaram o ambiente de guerra onde a mente de Wellington pode se alimentar, com fertilidade, de fantasias violentas e partiu para a prática de assassino serial.


Nesse ambiente violento, uma mente doentia alimenta obsessão pela morte e deseja ser o centro da atenção, "encher as telinhas", mesmo que seja com algo horrível. Como Paris Hilton, como os heróis de Bial, ele quer aparecer, mesmo fazendo algo de gosto abominável, um monstruoso crime.

A carta é dividida em três partes: a primeira é o delírio onde Welligton fantasia a própria morte. Para ele, a morte é Deus, Deus é a morte, não amor. A morte, para ele, merece culto, é bela, é um dom. E ele quer distribuir essa dádiva generosamente. É puro porque, em seu delírio, é um campeão do culto da morte. Para ele, subvertendo o sistema de crenças do cristianismo, que lhe daria, se perguntasse a uma autoridade, uma passagem direta para queimar no fogo do inferno, Deus é a morte, a negação da vida e da sexualidade é que é divina.

Nesse delírio, todos os fracassos viram sucesso, viram a marca de um eleito, alguém superior. Mesmo assim, esse praticante do culto da morte precisa ser banhado, precisa de rituais de purificação. E as razões de seu ato horrível, ele nos nega.

Depois que ele se refere à mãe, à origem, o delírio cessa em parte e ele percebe quem, originalmente, ele era. De agredido que passará, em breve, à posição de agressor e predador, ele percebe que sairá perdendo e pede que alguém cultue, também, sua morte. O "eleito" julga saber a verdade sobre o cristianismo: para Welligton, virgem como um padre, na verdade o cristianismo é culto da morte também e por isso basta orar que Jesus o buscará em sua segunda vinda.

Além de ser necessário saber punir quem vendeu as armas, é preciso saber quem e onde ele treinou. E, também, se participou de seitas religiosas fundamentalistas.

Efetivamente, prevenir o bullying é uma boa atitude para evitar que esse desastre se repita. Denunciar a mídia que propagandeia que o importante é aparecer na telinha, que alguém existe se ali aparece, é outro.

Na última parte da carta, Wellington apresenta preocupações pequeno-burguesas sobre seus bens após a morte. É tão grande o apego a coisas que se pode ver as pessoas não significam nada. Ao matar, ele alimentará seu culto ao seu Deus-morte; eliminará algumas coisas, alguns obstáculos para chegar ao corredor que leva à Globo. O mestiço pobre, o menino rejeitado no ventre da mãe, chegará enfim a seu objetivo, será "alguém".

É esse o sentido obscuro de seus atos: aparecer na mídia, ser objeto de atenção. Na última parte da carta, com repetições obsessivas e coisificantes, o pequeno-burguês mesquinho vomita suas certezas: prefere as coisas e os animais à família, às pessoas. Ele quer intermediar, do além, uma briga de família por seu mísero apartamento, indiferente ao sofrimento que irá causar nos parentes. Para escrever suas certezas idiotas, para exprimir seu desprezo ao seu semelhante que trata como coisa, ele escreve em português padrão, provavelmente porque deve imaginar que sua pureza poderá ser maculada pelo professor Pasquale quando a carta sair na mídia.

A razão de seu crime é que ele, fracassado, queria aparecer na mídia e obteve sucesso em seu intento. Estimulados por essa publicidade, outros farão o mesmo. A TV não está preparada para não cobrir esse fato com a justificativa de evitar outros. Esse tipo é justamente o fato que mais a atrai. Sem ética, ela lucra. Wellington, cujo ego era completamente formado pela telinha, sabia disso. Ontem mesmo fizeram o mesmo na Holanda.

O ventre de onde saiu esse monstro continua fértil.

Aguardem.

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