terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Carta ao Rafael Rodrigues Ou: Me Atualiza Que Eu tô Barroco!



Caro Rafael: vou falar a verdade sobre o seu artigo que só agora li no Suplemento Literário de Minas Gerais de julho passado (http://www.cultura.mg.gov.br/?task=interna&sec=6&con=907#julho2009): me atualiza que eu tô barroco! Seu artigo parece o de um velho, parece ter sido escrito no século dezenove!

Essa carta, no fundo, é um protesto, pois senti que você colocou o meu Penetrália no mesmo balaio dos demais blogs e sites literários que, no final das contas, não sofrem com crise alguma da crítica e somente com a incompetência interesseira de alguns poucos. Quem serão os desinteressados e competentes? Sugiro: Roberto Schwarz, Alcir Pécora, Paulo Franchetti, Wilson Martins, Augusto de Campos, Anelito de Oliveira.

Você mesmo elogiou as Horas Podres de Jerônimo Teixeira, crítico da Veja acusado por André Sant´Anna de ser um porta-voz do escritor e jornalista Mario Sabino, este, por sua vez, já acusado pelo jornalista Luiz Nassif até mesmo de manipular a lista dos mais vendidos da revista para poder nela figurar.

Em primeiro, o que você chama de crítica literária não está em crise, está restrita ao ambiente acadêmico. É forçoso que diga algo de substantivo. Vejamos a sua dúzia de clássicos: Machado de Assis, Schopenhauer e George Orwell (não deu uma dúzia). Eles, aliás, não entraram no cânone por suas obras enquanto críticos literários.

Inclusive, o livro que julgo mais representativo da literatura dos anos 90, o Cidade de Deus, de Paulo Lins, foi indicado a uma editora por um crítico: Roberto Schwarz. E depois virou filme e quase levou o Oscar, para você ver como são as coisas. Sabe essa coisa estilo “diário de uma favelada”, O Quarto de Despejo, O Cortiço? Pois é, pois é, tipo assim.

Rafael, bom e ruim são os conceitos mais relativos do mundo. Eu acho A Revolução dos Bichos ruim porque nela os proletários são animais e os humanos burgueses. Claro que isso não altera nada para você, mas ver uma versão filmada onde foi encaixado um final conciliador, em que homens chiques e neoliberais voltavam a dominar a fazenda, para mim fez toda a diferença. Também cultivo o conceito de que o romance político 1984 é um dramalhão de horror copiado do romance Nós, de Eugene Zamiátin e a melhor coisa em que resultou desse texto foi a música de David Bowie com esse nome.

Rafael, sugiro que você cultive seus gostos, suas manias, suas loucuras mais características e tenha coragem de defendê-las contra a moda, contra o mundo, contra tudo. Aí sim, fará crítica literária com credibilidade, honestidade, sinceridade, arrogância, prepotência, escreverá até mesmo com Tolstói vigiando de um lado e Dostoiévski olhando de outro. Para Oswald de Andrade, crítica não pedia nada disso que você citou, apenas maldade.

Enfim, por hoje vamos ficar por aqui. E não se esqueça da frase de Machado, repita antes de dormir: “é levantando as estátuas do teu inimigo que tu consolidas as tuas próprias estátuas”. Não esqueça disso na hora de fazer a minha estátua, hein? E então: me atualiza que eu tô barroco, hein?

Abraços do Lúcio Jr.

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