domingo, 28 de junho de 2009

Eu, Antonio Cicero e a Burca

5.6.09
Sarkozy e a burca

Antonio Cicero

Ontem alguém que assina “Penetralia” deixou um comentário sobre meu artigo “O clássico e o contemporâneo”, dizendo que estava tudo bem com as minhas posições, desde que eu não defendesse a “proibição imbecil do Sarkozy da burca em nome da laicidade e da razão”. Respondi que não via relação entre o artigo citado e a questão da burca. Hoje Marcelo Pereira, confundindo a burca com o chador, que é um lenço no cabelo, e que já havia sido proibido nas escolas francesas antes do governo Sarkozy, defendeu essa proibição.

A burca, porém, é algo muito mais grave do que o chador. Como se pode ver pela foto acima, ela cobre toda a cabeça, inclusive o rosto de quem a usa. Anteontem o Sarkozy falou em proibir a burca. Essa proibição não se basearia simplesmente na defesa da laicidade e da razão, como afirma Penetralia, mas na convicção de que se trata de algo opressivo à mulher. “Em nosso país”, disse Sarkozy, “não podemos aceitar que mulheres sejam prisioneiras atrás de uma tela, privadas de toda vida social, desprovidas de toda identidade”. Sarkozy observou também que “a burca não é um sinal religioso, é um sinal de subserviência, de rebaixamento”.

Mesmo embora eu não simpatize muito com o Sarkozy, acho que ele está certo, sim. Entre as correntes mais conservadoras do Islã, as mulheres – jamais os homens – são obrigadas a usar a burca. Haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, pois, como diz Sartre, há quem prefira ser coisa do que ser gente, mas penso que a proibição é o único caminho para permitir que as muitas mulheres que se sintam humilhadas por essa vestimenta-prisão livrem-se dela. Sem a proibição, é certo que muitas mulheres que não gostam da burca sejam obrigadas a usá-la pelos maridos que, no Islã, têm o direito de bater nas esposas.
Postado por Antonio Cicero às 10:44
Marcadores: Burca, Islã, Nicolas Sarkozy

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