sexta-feira, 3 de outubro de 2008

New York, New York, de Denny Yang

temas: Literanário - Crítica


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[01-10-2008]

Comece a espalhar a notícia, estou partindo hoje, / Eu quero ser parte dela / Nova Iorque, Nova Iorque”. O novo romance de Denny Yang evoca a canção de Sinatra: impossível não sê-lo. Basta pousar os olhos no título e a melodia flui à mente do leitor. New York, New York (Ed. Multifoco, 2008) é paradoxal com relação a um ponto em específico, o de vista: desenvolve-se no 11 de Setembro, período em que a mídia centrou toda a sua cobertura nos atentados terroristas em território estadunidense, mas mostra a quem lê que, muitas vezes, a verdadeira guerra trava-se em nosso cotidiano, não importando a quantas anda o mundo-cão exterior.

Se o episódio nos EUA já era confuso por si só, imagine como seria se você ficasse longe de tudo por dois anos, em meio às montanhas. É exatamente o que se passa com o narrador da trama, e – escolha acertada – o uso do discurso em primeira pessoa cai perfeitamente ao anseio de clarear para o leitor o psicológico atordoado de quem escolhera o exílio voluntário e retorna ao mundo em meio à queda do WTC.

A tentativa, ou melhor, a necessidade de voltar a interagir com a sociedade ganha uma chance quando os atentados são noticiados na televisão: já que todos comentam sobre o assunto, sair da casa dos pais para buscar diálogos é uma ótima opção de entrosamento. Mas, seja nas ruas, seja no bar dos amigos, o Maria Maria, nosso locutor esbarra na falta de opinião ou – o que é completamente justificável – na apatia da população pelo caso, afinal, o caso ocorreu a muitos quilômetros daqui, e a vida é difícil o bastante sem se preocupar com os problemas dos outros.

Enquanto o mundo explode lá fora, o homem de New York, New York vê-se obrigado a implodir as duas torres que se lhe impunham: a busca pelo trabalho de ator em teatros e a paixão desenrolada aos poucos e mal resolvida com a grande amiga Aline. Precisa lidar com ambas as situações, mas, humano que é, sente que o amor é capaz de trazer mais sossego, de até fazê-lo não reparar com muita atenção os noticiários acerca dos atentados. Aline mora no litoral da cidade e é linda. De uma beleza quase adolescente, daquelas que faz o rapaz sentir-se bobo, sem saber o que dizer. Mas a montanha da solidão lhe mostra que deve mudar de atitude, que alimentar a paixão somente não seria frutífero: tem de arriscar para ser feliz.

Ele o faz, e o romance ganha parte substancial do livro, incluindo outros personagens relevantes, como a colega Cláudia e o ator Fabiano. Prendendo o leitor com sentimentos inerentes a todos, Yang mostra-se seguro e deixa transparecer que sempre haverá um quebra-cabeça autobiográfico embrenhado nas obras dos escritores. Impossível saber quais das partes do romance foram vividas – de alguma forma – pelo autor, nem isso é relevante: o mais importante aqui é notar como nos identificamos com suas palavras.

Utilizando uma linguagem simples, de entendimento por todas as faixas etárias de leitores, Denny Yang busca nos mostrar as reviravoltas que podem ocorrer em qualquer paixão e que, embora possa parecer uma realidade dura, a verdade é que buscamos, antes de mais nada, seguirmos com nossas vidas, felizes; não era isso o que cada uma das vítimas do atentado almejavam em seu dia-a-dia? O narrador do livro avidamente deseja modificar a si mesmo, e percebe que é possível conciliar suas experiências do isolamento com o frenético mundo de fora. Eis o corolário do novo livro de Denny Yang expresso nos versos da música de Frank Sinatra: “Eu quero acordar na cidade que nunca dorme / E descobrir que sou o rei da montanha - O maioral”.

Alex Martire

Nota do Editor:


Alex Martire nasceu em São Paulo em 1983, é graduado em História pela Universidade de São Paulo, desejando seguir adiante na área da Arqueologia Clássica, embora a paixão pelas letras esteja em sua vida desde antes e nunca o abandonará. Possui diversas poesias e contos ainda não publicados.

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