sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Camile Paglia sobre Daniela Mercury

No front cultural, há duas semanas atrás eu estava no Brasil para minha primeira visita para a maravilhosa e capital histórica Salvador na Bahia, a qual eu adorei (Não me faça começar com a maravilhosa comida, que tem raízes africanas e ameríndias.) Eu dei uma palestra pública no Teatro Castro Alves na série Fronteiras do Pensamento, patrocinadas pela Copesul Braskem: “Variedades do Erótico na Arte do Século 20.”

Depois, no salão verde, enquanto minha mente ainda estava ligada nas 61 imagens que mostrei (de Gustav Klimt e Pablo Picasso através de Cindy Sherman e Roberto Mapplethorpe), uma assessora de imprensa chegou com um presente de uma das mais famosas residentes de Salvador, a Superestrela Daniela Mercury – cinco de seus DVD’s amarrados com uma fita vermelha. Sensorialmente sobrecarregada! Com os DVD’s preciosos embalados na minha bagagem de mão, eu voei de volta pra os EUA em um tapete mágico da fantasia de Mercury. Eu não estou brincando: Aqui está a foto magneticamente fundida da capa de Clássica.

Desde meu retorno eu sondei as riquezas da internet para pesquisar o real fenômeno Mercury (seu verdadeiro nome: O nome de solteira da mãe dela era Mercuri). Eu tive um baile no Youtube, que está profusamente estocado com seus vídeos, entrevistas de TV e encontros cândidos com fans. Daniela, agora com 42, já foi chamada de Madonna Brasileira, mas seu trabalho com cantora e bailarina é muito mais vasto e mais eclético que o de Madonna. Sua estética folclórica foi moldada pela celebração colossal do Carnaval de Salvador, a qual a cidade se vira para cantar e dançar ao lado de grandes caminhões amplificados (trio elétricos). Uma performance típica nas elevadas plataformas podem duram até 7 horas diretas. (Aqui está Daniela em um caminhão completo de carnaval ficando encantadoramente emocionada na passarela antes de cantar singing "Swing Da Cor" para a grande multidão abaixo.)

Ainda que sua carreira profissional começasse em bares, Daniela atingiu o estrelato no anos noventa como “Rainha do Axé”, um pop Soteropolitano-baseado-Afro-Brasileiro muitas vezes chamado de samba reggae. Seu extenso repertório varia de músicas elétricas ao Rap Português. Através disto tudo corre sua afinação da profunda emoção assim como sua fascinação com os ritmos complexos da Bahia Africanizada. Seu principal princípio é “alegria”, a qual chama de essência da vida e o que ele visivelmente transmite para seu mar de fãs.

Assistindo Daniela Mercury em ação, eu percebi como eu me tornei entediada e desiludida pelo entretenimento popular americano nos últimos 15 anos, quando Madonna se tornou corporativa e perdeu sua força no zeitgeist (espírito de época). Toda a paixão, improvisação e vitalidade a céu aberto tem ido para o Brasil enquanto os fãs de música americana tem estado encarcerados como touros dopados nos currais comerciais de preços excessivos, e arenas excessivamente acondicionadas, onde os artistas trotam passos enlatados entre efeitos especiais computadorizados de luz. Músicos de baixo orçamento e “alternativos” são tão programados quanto, com seus hábitos políticos chatos ou suas afetações datadas de ironia urbana.

Eu recomendo de coração o DVD "Eletrodoméstico," para todo jovem artista aspirante ou para qualquer um que queria ver artes performáticas na mais nobre magnitude. ( A imagem fascinante de capa da um gosto da surpreendente variedade de redemoinho, figurino cortado de couro, jóias complexas e mal-afamadas braçadeiras gaúchas.) “Eletrodoméstico” é uma maratona, performance de 2003 altamente octana da MTV Brasileira onde Daniela incansavelmente canta e dança por 25 músicas. (Aqui está ela se apresentando e fazendo performing and rapping sensacional canção título em um festival de Jazz em Montreal.) Também existem diversas canções-e-danças espirituosas e duetos com artistas convidados. Alguém não pode imaginar Madonna graciosamente dividindo o palco com qualquer um (como Judy Garland fez com a jovem Barbra Streisand, por exemplo, quando o formato de show de variedades estava ainda próspero nos Estados Unidos).

Similarmente, ninguém pode imaginar Daniela com sua linguagem corporal fluida e relaxada e pele lisa e silhueta dourada, cultivando a os braços grotescamente fortes e pálidos e mãos em forma de patas que devem ser minuciosamente apagadas das fotos de revistas da workacholic Madonna. Desestressada, antenada, a sobre conceitualizada mulher anglo americana atualmente disponível no filme Sex And The City está causando uma dispepsia cultural. Seria alguma surpresa que tantos homens jovens e talentosos são relutantes em casar ou se tornaram gays em rebanhos? Exatamente o que as jovens profissionais de hoje em dia podem oferecer, a não ser uma excedida conversa de escritório em um almoço de negócios?

Reconexão a uma natureza seria obviamente mais fácil na luxuriamente Bahia tropical do que na rochosa grade de Manhattan. Mas é aí que a arte entra – o mediador da imaginação expandida, que dissolve o tempo e o espaço. Círculo cheio ao feminismo: Sexismo, aonde existe, é uma barreira política que deve ser removida. Mas a vida é um princípio orgânico e uma fuga para o cósmico, muito mais vasta e mais eterna que a política.

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