segunda-feira, 22 de setembro de 2008

“É ECONOMIA SEU ESTÚPIDO”


Laerte Braga

Quem se recorda do debate entre os candidatos Bil Clinton e George Bush pai, em 1992, vai se lembrar dessa frase do candidato democrata, decisiva para sua vitória sobre o Bush. Bush pai tentava a reeleição. Ele e Jimmy Carter foram os únicos presidentes desde 1960, que não se reelegeram (considerando que a eleição de Lyndon Johnson seria a reeleição de John Kennedy, assassinado em 1963).

“É economia seu estúpido”. Foi o que Clinton respondeu a série de explicações do pai sobre guerra do Iraque, terrorismo, todos esses chavões que norteiam os presidentes republicanos e ao final acabam levando o país a uma realidade como a de hoje.

Os Estados Unidos assumiram o papel de “condutores da humanidade para o paraíso” ao final da Segunda Grande Guerra e depois de quatro governos sucessivos de Franklin Delano Roosevelt, democrata, o último deles completado por Harry Truman.

O “new deal” foi a primeira grande intervenção do Estado na economia. Fez frente à crise de 1929 e basicamente tirou o país da quebradeira geral, o que chamaram de “grande depressão”, através de obras públicas e intervenção do Estado na economia.

O mercado havia se enrolado de tal forma que não conseguia responder ao pânico que tomou conta dos EUA, gerou desemprego e uma das mais altas taxas de suicídios numa só época, num só período, como conseqüência do grande desastre.

A Segunda Grande Guerra foi outro elemento a tirar os EUA da crise. Um parque industrial formidável sustentou os aliados ocidentais a partir da Grã Bretanha e a contrapartida do bloco soviético fez com que ao final do conflito duas grandes superpotências emergissem e dividissem o mundo em dois.

O fim da União Soviética criou a sensação entre os norte-americanos que anjos haviam descido do céu, punido o mal e ungido o bem, com catedrais distintas. Uma em Washington, outra em Wall Street.

Esqueceram-se de ler Mao Tsé Tung. “O imperialismo é um tigre de papel”. Boa parte da economia norte-americana depende hoje da China. Os poderosos escudos antimísseis construídos desde o governo Reagan são insuficientes para garantir a benção dos anjos. Não protegem por dentro.

A economia dos EUA é mais ou menos como uma casa dos três porquinhos, uma história infantil centenária e que com certeza todos já ouvimos. O lobo chega e sopra, joga as paredes no chão e os porcos irmãos são obrigados a correr e a construir outra casa até que consigam segurar os sopros do lobo.

O problema aí é que o lobo está dentro de casa e plantado no centro das decisões, logo é ele quem decide o material da “construção”. Atende pelo nome de mercado.

Quando se fala em Banco Central nos EUA imagina-se uma instituição bancária do governo a controlar entre outras coisas juros e emissão de moeda. Não é não.

O Banco Central dos Estados Unidos é uma associação de bancos privados que detém o poder de emitir moeda e definir juros. Hoje 32% das ações do FED (Federal Reserve) pertencem ao Chase Manhattan Bank e 20,51 pertencem ao City Bank. Duas instituições bancárias privadas controlam a economia do país. Em toda a sua história o FED jamais foi submetido a uma auditoria.

O que chamam Sistema Federal de Reserva foi transformado em lei pelo presidente Woodrow Wilson, no final de 1913 e permanece intocado até hoje. Dois presidente desafiaram esse poder. Roosevelt e Kennedy.

A emissão de moeda pelo FED se dá a juros inferiores a 3% para banqueiros, que repassam em forma de empréstimo ao governo federal dos EUA a juros de 7,5% a 8%. Qualquer governo nos EUA trabalha para pagar o que chamam de “serviço da dívida”.

A isso se junta a tal lógica do capitalismo. Que é mais ou menos como a necessidade de se ter um estoque de produtos, bens e serviços em constante transformações e inovações para que o distinto público financie todo esse complexo mafioso, tanto quanto ampliar esse mercado, estender-se ao mundo inteiro e tornar-nos a todos, países e povos, consumidores e pagadores dos juros do FED.

Plantaram os alicerces da casa com papéis. Montaram um extraordinário poder militar com o objetivo de desestimular qualquer reação a essa ordem política e econômica e criaram uma espécie de mundo Walt Disney para os cidadãos norte-americanos, “o mundo de Truman”, irreal, fictício, que exportam sob a forma de democracia, liberdade, justiça, o tal american way life, embalado em sanduíches da Casa McDonalds e engarrafado na tonificante coca cola.

Fica mais ou menos assim. O cara assiste a um filme em que Cary Grant e Débora Kerr marcam um encontro no último andar do Empire State Building, alguns anos depois de terem se encontrado num cruzeiro marítimo, mas um deles se acidenta quando a caminho e não chega. Ou vai para dentro da tela na versão mais realista de Woody Allen.

Vitório de Sicca fez melhor em “ladrões de bicicletas”.

É o caso típico de quem faz e quem deixa. Depois é só ir berrar na porta de Wall Stret com o “NEW YORK TIMES” nas mãos, mostrando que os fundos de pensões e aposentadorias, todos privados, foram para o buraco.

A verdadeira lógica é simples. Um trabalhador na Indonésia trabalha vinte horas por dia em condições subumanas e a Reebok vende tênis em que agrega toda essa parafernália capitalista a embasbacados consumidores/escravos em todos os cantos do mundo.

Acumula os dividendos da escravidão.

Se o indonésio berrar, o salário de um dólar por dia vira um monte de mariners em missão de paz e combate às drogas.

Só na semana passada nos arredores de Wall Street, ou seja, naquilo que está umbilicalmente ligado ao mundo dos papéis sem lastro, 50 mil pessoas perderam o emprego e viram suas aposentadorias e pensões embarcarem numa viagem sem volta numa nave espacial da NASA.

Mercado. Grandes empresas. American way life. Hollywood.

No topo dessa montanha George Walker Bush decidindo o que é bom e o que é ruim para o mundo.

Palestinos, afegãos, iraquianos, o governo Chávez, Evo Morales, Fernando Lugo, Rafael Corrêa, o povo paquistanês, viram a encarnação de Lúcifer em combate com o anjo que abençoou Wall Street.

Sarah Palin, governadora do Alasca e candidata a vice-presidente na chapa do republicano John McCain, considera tudo isso missão divina.

E até o pacote de 700 bilhões de dólares para salvar os bancos da falência e manter o modelo, nem que seja com tapumes azuis e verdes, para esconder o sombrio da perversidade capitalista.

De quebra querem vender o pacote de salvação para o resto do mundo, no pressuposto que é preciso ajudar o gigante do norte, num momento que as pernas estão trôpegas e cambaleantes.

Nesse tipo de negócio Pastinha nem passa perto. Não conhece nada além de milzinho para sentar em cima e uma semana na praia para esquecer outro papelório em desajuste com os negócios, mas dentro do mercado.

George Bush pai perdeu para Clinton no momento que não soube responder à afirmação do democrata. “É economia seu estúpido”. Não faz a menor idéia do que seja isso.

Só o colar da senhora McCain usado na convenção do Partido Republicano custou 300 mil dólares. A senhora em questão é do meio oeste e voluntária na ajuda a crianças pobres do resto do mundo. Promove pipocas dançantes.

Como afirma César Benjamin, “Karl Marx manda lembranças”.

Nenhum comentário: