quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM PONTAPÉ NOS FRACOS

por John Hemingway

Quando eu era estudante na Universidade da Califórnia, no começo dos anos oitenta, eu tinha um amigo Chicano (mexicano-americano) que costumava brincar sobre “la riconquista de California por la Raza”. “Eles tomaram de nós metade do México nos anos 1840 e agora nós estamos lentamente (através dos imigrantes) tomando-a de volta!” Ele estava sendo irônico mas ao mesmo tempo isso faz você pensar sobre a história, o oeste americano e o início do imperalismo dos EUA.

Talvez poucos dos meus compatriotas tenham consciência do fato, mas se você olhar qualquer mapa do México até a guerra com os Estados Unidos em 1848 nele estão incluídos os estados do Texas, Califórinia, Nevada, Arizona, Utah, Novo Méxixo e partes do Colorado e Wyoming. Embora seja verdade que grande parte dessas terras nunca tenham sido assentadas (excluindo as tribos nativas americanas, é claro), o México declarou-as como suas e ninguém abaixo da fronteira sul parece ter esquecido isso.

De fato, quando a companhia sueca Vin & Spirit (proprietária da Vodka Absolut) colocou uma propaganda nos jornais mexicanos que trazia um mapa do país de 1830 com a mensagem, em inglês, “Em um mundo absolut”, ela sabia que esse tipo de mensagem tinha um grande apelo para atingir seu público-alvo no México. O que eles não contavam era com a reação extremamente negativa de muitos americanos ao anúncio. Blogs direitistas, como “The Drudge report” e outros souberam do mapa e iniciaram uma campanha contra o anúncio, incentivando seus leitores a mostrarem sua desaprovação boicotando a Vodka Absolut. A quantidade de mensagens raivosas recebida foi tanta que a Vin&Spirit suspendeu a propaganda na mídia mexicana e emitiu um comunicado pedindo desculpas aos irritados clientes americanos.

Não há muita gente na América que goste de ser lembrada de como as nações são "forjadas", ou da memória histórica daquelas que foram removidos à força, em especial quando a economia piorou e o dinheiro está difícil. Ainda hoje recebi um artigo do Los Angeles Times sobre os recentes cortes orçamentários na Califórnia e como eles vão afetar o nível de educação oferecida nas escolas públicas. Muitos pais estão sendo contatados pelas escolas locais para contribuirem com dinheiro para cobrir os custos que deveriam ser pagos pelo Estado.

Até mais interessante do que o próprio artigo foram as reações dos leitores. Uma carta pergunta, "Por que deveriam os contribuintes não-latinos dar dinheiro às escolas que ensinam as crianças a odiar os brancos e os Estados Unidos?" Outro declara que a solução é muito simples: “afastar todas as crianças ilegais das escolas públicas e economizar bilhões. Metade da escola da minha filha ensina espanhol somente. Aos professores não é permitido falar em inglês aos estudantes. Em que país nós vivemos? Eu pensava que era nos Estados Unidos”. Um terceiro leitor agarra o touro pelos chifres e diz: “As pessoas que produzem receitas estão deixando o Estado e o terceiro mundo está chegando. Construam o muro”.

Quando os tempos estão difíceis é sempre o mais fraco que mais sofre. A classe média na América tornou-se cínica e dura enquanto cresce a crise da habitação com proprietários perdendo suas casas. É preciso achar culpados. Os bancos? Os Neocons? Wall Street e a elite dominante? Não, os mexicanos ilegais e seus filhos que estão recebendo uma “carona gratuita”, à custa do contribuinte.

Posso entender a raiva deles. Eles estão olhando para o abismo da depressão americana que está chegando e eles estão com medo por si mesmos e por suas famílias, mas não será atacando os latinos que irão curar os males da economia. Na eterna guerra entre classes na América, a junta monetária de suas empresas, militares e bancos querem que lutemos entre nós. Ela desvia nossa atenção dos verdadeiros vilões e destroi qualquer visão de uma sociedade justa.

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