sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Margaux


MARGAUX



Confesso que tive que ser lembrado por um amigo que ontem foi o aniversário da morte do meu avô. E, claro, 2 de julho foi também o dia em que minha prima Margaux morreu. Tecnicamente eu estava vivo durante o tempo em que ambos viveram, mas eu não cheguei a encontrar meu avô. Eu tinha 10 meses de idade, quando ele se matou, mas eu conheci Margaux.

No verão de 1971, eu passei um mês na casa do meu tio Jack, em Ketchum, Idaho. Margaux tinha 16 anos, cinco anos mais que eu, e era muito mais rebelde. Alguém que, a acreditar no que a irmã mais jovem dela, Mariel, me dizia, gostava de frequentar os bares de cowboys e abrir garrafas de cerveja com os dentes. Ela era alta e atlética, mas não tinha ainda a beleza deslumbrante que o mundo iria conhecer alguns anos mais tarde.

Ela gostava de provocar as pessoas. Eu me lembro que uma vez que ela me mostrou, na presença de Mariel, alguns esboços de nus masculinos que tinha feito, com tudo à mostra, "ben in vista", como dizem os italianos. Era o tipo de coisa que ela sabia que não iria agradar sua irmã Mariel, que subiu correndo em direção à mãe gritando: "Margaux mostrou aqueles desenhos indecentes para o John!”

Mais tarde, quando se tornou famosa, acho que fiquei mais surpreso do que a maioria das pessoas ao ver seu rosto na capa de revistas. Tinha ainda a imagem de rebeldia dos dezesseis anos, mas a transformação da cowgirl em deusa da elegância não poderia ter sido mais completa.

A última vez que a vi, foi no auge de sua carreira, em 1977. Eu estava em Nova Yorque com meu pai e sua esposa Valerie, em seu pequeno apartamento na Rua 95 East. Meu pai tinha acabado de mudar de Fort Benton, Montana, depois de ter abandonado a sua primeira tentativa de clinicar naquele estado. Ele estava deprimido, enquanto eu procurava nas diversas escolas na área da Nova Inglaterra qual delas me aceitaria. Enquanto procurava uma escola, encontrei Margaux em uma esquina. Era de manhã, eu tinha descido para tomar café numa delicatessen e voltava para o apartamento. Enquanto esperava o sinal abrir, eu a vi.

"Margaux?", chamei.

"Sim?" disse ela.

"Eu sou seu primo John”, disse. Ela não podia acreditar que era eu. Ela se lembrou de mim, claro, mas a última vez que me viu eu tinha 11 anos e agora estava com 17. Ela me perguntou o que eu estava fazendo em Nova Iorque. Eu lhe contei, enquanto a admirava, como ela estava alta e linda. As revistas não exageraram a sua beleza, nem um pouco.

Ela perguntou sobre minha mãe. Ninguém na família nunca perguntara sobre Alice, porque todos sabiam que ela não estava bem. Sofria de esquizofrenia e em suas crises frequentes, Alice ouvia vozes que diziam a ela que nós tínhamos que ser entregues à Igreja Católica ou abandonados ou qualquer outra fantasia. Essa foi uma das principais razões pelas quais eu vivia pulando de casa em casa dos parentes durante a minha adolescência. Mas Margaux perguntou, e parecia verdadeiramente interessada. Estou certo de que ela sabia o que todos sabiam sobre a minha mãe, mas ela era o tipo de pessoa que não podia ajudar, mas se preocupava com o destino dos outros.

Ela tinha um coração generoso, eu nunca vou me esquecer dela.

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