domingo, 24 de agosto de 2008

"O Fim da Arte": Uma Carta ao Contrera

Caro Rodrigo:

Eu salvei essa entrevista com o Danto porque concordei com quase tudo o que ele disse. Só não concordo que a Filosofia não possa mais ajudar ninguém, mas aí acho que foi provocação. Mas penso que a arte serve para cicatrização. Um exemplo que ele deu foi do setember eleven. Poderia ter dado de Apenas Uma Prova de Amor.

Essa matéria me fez lembrar um dia em que eu vi um dos orientandos do Rodrigo Duarte nervosíssimo, defendendo uma tese sobre a inutilidade da poesia após Auschwitz. Que besteira, pensei! Mas, como cara estava muito tenso, falou, falou e não disse nada.

Diante da experiência negativa é que eu produzo! Eu e mais você, provavelmente. Adorno não queria teorizar nenhuma prática nem uma estética. A partir disso, houve quem entendeu (Baader Meinhof) que a saída era partir para a luta armada, já que não existiam possibilidades de reunificar as Alemanhas sob um socialismo democrático.

A entrevista clareou para mim: Adorno, Rodrigo Duarte e os discípulos querem tirar a arte de seu lugar e nela colocar a Filosofia. Trata-se de uma luta da Filosofia contra a arte. Antes, o site do Ghiraldelli ainda mais agressivo. Na lista de discussão, recebia-se bizarrices e loucuras. Eu parei de receber porque não aguentava mais ler defesas da invasão do Iraque.

Um comentário:

Rodrigo Contrera disse...

Lúcio
- no âmbito pessoal, a filosofia conduz (ou deveria conduzir) à paz da ausência de ilusões; não é o que geralmente acontece
- no âmbito do conhecimento, a filosofia é uma disciplina técnica como qualquer outra, que aufere sempre mais do desenvolvimento das técnicas que dela se originaram, se não em método, em objeto de busca - da psicologia, da sociologia, etc.
- no âmbito da política, a filosofia permite vislumbrar de forma diferenciada (quiçá mais ampla) questões que atingem todos os âmbitos do real e do conhecimento; mas muitas vezes que se deixa levar por questões de ordem deontológica ligadas a temas candentes - com partes em disputa, acaba se perdendo no jogo da política real
- a poesia, como qualquer outra arte, obedece a si mesma. não é a filosofia que dirá quando ela surge nem quando desaparece. eu, como artista, sei que a arte às vezes está - a partir de certo ponto - no fundamento da maior abjeção possível e inimaginável. mas isso custa às vezes tanto sangue frio que o ser humano realmente não agüenta.
- desculpe-me, mas às vezes sinto vergonha impressionante quando reparo na atenção que algumas discussões tão mal encaminhadas merecem de colegas que aprecio tanto.
abraço
contrera