quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Castelas de Areia


CASTELOS DE AREIA



E no fim, os castelos feitos de areia deslizarão para o mar (Jimi Hendrix)

Montréal (Canadá) - Sábado de manhã, encontrei um homem que fazia castelos de areia para viver. Seu nome era Mark e ele marcava a área de sua última criação em Huntington Beach. Ele tinha sido contratado pelo hotel em que nós estávamos, e me disse que no verão ele trabalhava do lado de fora quase todo fim de semana. Ele perguntou se éramos da Califórnia e quando eu lhe disse que não, que nós éramos de Montréal, ele disse que nós poderíamos ajudá-lo, se quiséssemos. Deu à minha filha e ao meu filho uma espécie de pá de plástico e colocou-os trabalhando numa das quatro torres que limitavam a área.

Mark levava a sério seu trabalho, mas era extremamente paciente e gentil quando explicava os pontos mais delicados de sua arte. Nós éramos as primeiras pessoas naquela manhã e ele disse que gostava do jeito como meus filhos trabalhavam. “Você sabe”, ele me disse, “com os problemas econômicos que estamos vivendo agora, temos tido mais turistas estrangeiros do que americanos no hotel e observei que as crianças estrangeiras são mais independentes e não tão agressivas quanto as americanas”.

Eu tentei amenizar a situação e lhe disse que minhas crianças estavam longe de serem pequenos anjos, mas ele insistiu: “eu não sei, talvez nós estejamos fazendo alguma coisa errada”.

Eu não soube o que dizer a ele. Eu poderia somente falar dos meus próprios filhos. Eu não vivo nos Estados Unidos desde 1985, mas admito que provavelmente ele estava certo. A agressividade tornou-se uma marca registrada americana. Nós somos os "hooligans" do planeta e eu perguntei a ele o que as pessoas de Huntington Beach pensavam sobre a guerra no Iraque. Ele me disse que ele e seus amigos eram contra e olhando pra ele eu senti que ele pensava do mesmo jeito que eu. Que nós dois, sem ajuda, não poderíamos mudar muita coisa e que votar num ou noutro candidato na próxima eleição não interromperia a guerra nem a arrogância imperial de nosso país. O sistema está montado de tal forma que alguém que seja a favor da paz e de um mundo diferente jamais chegará a presidente. Esse era o fato e você não precisaria ser nenhum gênio para ver como nossa democracia se deteriorou. Com nossa “guerra contra o terror” e as centenas de milhares que matamos no Iraque e no Afeganistão, nós tínhamos nos desonrado para sempre. O império americano teria que cair, como acontece finalmente a todos os impérios, antes que nós possamos começar a pagar pelos danos que causamos.

O único consolo, pensei comigo mesmo, era que nem todos tinham engolido a propaganda do regime e que pessoas criativas como Mark estarão lá para consertar as coisas quando o tempo chegar.

CASTLES MADE OF SAND

And so castles made of sand slips into the sea, eventually (Jimi Hendrix)

Saturday morning I met a man who makes sand castles for a living. His name was Mark and I saw him when he was setting up the perimeter of his latest creation on Huntington Beach. He’d been hired by the hotel that we were staying at, and he told me that in the summer he was out there almost every weekend. He asked if we were from California and when I told him that we weren’t, that we were visiting from Montreal, he said that we could help him if we wanted. He gave both my daughter and my son a plastic chisel and he put them to work carving a passageway into one of the four towers of the perimeter.Mark was very serious about his job but extremely patient and gentle when it came to explaining the finer points of his art. We were the first people there that morning and he said that he liked the way my kids worked. “You know,” he told me, “with the economic problems we’re having now we get a lot more foreign tourists than Americans at the hotel and I’ve noticed that the foreign kids are more independent and not as aggressive as the Americans.”

I tried to make light of the situation and told him that my children were far from being little angels, but he insisted and said “I don’t know, maybe we’re doing something wrong.”

I didn’t know what to tell him. I could only speak for my own children. I hadn’t lived in the U.S. since 1985, but I suspected that he was probably right. Aggression has become an American trademark. We are the hoodlums of the planet and I asked him what the people in Huntington Beach thought about the war in Iraq. He said that he and his friends were against it and looking at him I could tell that he felt the same way that I did. That we were both helpless to change anything, and that voting for one candidate or the other in the next election wouldn’t stop the war or our country’s imperial arrogance. The system was rigged and anyone in favor of peace and creating a different world would never get close to the presidency. It was a fact and you didn’t have to be a genius to see how far our democracy had deteriorated. With our “war on terror” and the hundreds of thousands that we’ve killed in Iraq and Afghanistan, we had permanently disgraced ourselves. The American Empire would have to fall, as all empires eventually do, before we could even begin to make up for the damage that we’d done.

The only consolation, I thought to myself, was that not everyone had fallen for the regime’s propaganda and that creative people like Mark would be there to pick up the pieces when the time came.

Nenhum comentário: