domingo, 24 de agosto de 2008

Blognovela Penetrália: Capítulo 3

Capítulo 3: A CRUZ DO CRUZ & SOUSA

(O Gugol Júlio Fantasma informa que a blognovela foi interrompida de forma abrupta na última sessão).

João Paulo: sou eu que tenho uma abelha na cabeça. O Mário é o que tem o celular que toca sempre Pour Elise e o faz chorar. É que ele leu Adorno e a regressão acústica. Ele lembra que para ele, Lukács, Hegel e Adorno, a arte morreu. E ele não sabe nada de Filosofia. Tem também o cara do trem e o do cometa.

Trem: eu só volto daqui a quatro anos.

Cometa: eu sou o Halley, só volto daqui a setenta anos.

Lúcio (sapateando): Trem? Eu deixo aqui uma sugestão para uma polêmica no blog: o gesto dos Kaiapós de passar o facão no engenheiro da Eletrobrás foi antropofágico? Para mim, foi.

Guzik: Nem é preciso ir atrás de teorias de historiadores e sociólogos. Bastam uma hora à noite sem energia ou vinte e quatro horas sem água (as duas carências rolaram aqui entre terça e quinta) para percebermos como são precárias todas as nossas "qualidades" de vida. que civilização frágil essa que construímos!

Contrera: no encontro entre a barbárie da civilização e a civilização da barbárie sempre há quem sirva de comida aos cortadores de cabeças. o que não significa que não deva existir porrete a demandar um limite entre as facas ou os canhões.

Rio Maynart: Caro Andrei, te sinto mais “Andrei” do que “escrava isaura”, assim como vejo o Vamp mais vampiro do que Odete ‘Róitman’, ele não é um vilão como ela. O Vamp, caro Andrei , é lindamente sensível!!! Ele até teve um surto só pq eu questionei uma frase meio non-sense sobre a mão num sapato ser o mesmo que uma mão no cadáver e parece que o Lúcio Jr. tb teve o mesmo questionamento q eu, (segundo o Gerald)… Para surtar c/ isso, é necessário ter muita sensibilidade (A Odete ‘Róitman’ nunca surtaria c/ essa pergunta. Ela é uma vilã fria, crua, cruel e durona), e olha que ele (mesmo surtado) ainda teve sensibilidade e tesão para agarrar alguém no escuro… Eu acho que ele agarrou foi a Dra. Paloma. Fábio, meu caro, não gosto de rótulos.

Sandra: SENSACIONAL! Ar-ra-sou!

Lúcio: Mas não tem nenhum Andrei aqui, só um boneco. Sarapateus e sarapatetas: sabe o q eu acho mais complicado nessa história do setember eleven? É que agora, um nacionalismo árabe pragmático não pode mais apoiar os USA nem aceitar um programa democrático liberal! Eles venceram, fecharam o sinal. Mesmo o Talibã e Saddam se aliaram aos USA em certos momentos. De agora em diante isso é impossível!

Laerte Braga: para quê apoiar o imperialismo americano?

Andrei Golemsky (o boneco volta a falar, aparentemente sem motivo, numa nova gravação): Ah, seu Laerte, a morte é uma divindade, a morte é uma festa! Certo dia, ouvi num noticiário que dez pubs londrinos, daqueles bem tradicionais, planejam oferecer um novo serviço no mercado gerado pela morte. O referido serviço consiste em, expressando o morto (com alguma antecedência, evidentemente) o desejo de que assim seja feito, ser o corpo e as cinzas depositadas numa urna funerária (até aqui não há novidade). E essa mesma urna contendo as cinzas do antigo cliente seria armazenada, ou exposta, no interior do próprio pub que o morto costumava freqüentar com seus amigos, acompanhada de uma placa convencional de lembranças eternas.

Cruz do Cruz e Sousa: Prezado Sr, estou realmente estarrecido com sua atitude, tanto no seu blog quanto aqui, revelando uma intimidade que jamais tive nem tenho com colegas, ex-colegas, amigos, ex-amigos, companheiros, ex-companheiros, aliados, ex-aliados, adversários, ex-adversários, e digo mais: nem mesmo com parentes de primeiro, segundo, terceiro graus etc.

Até onde me lembro - e estou vivo e lúcido o suficiente para me lembrar completamente de todos os meus atos - jamais o agredi, jamais o desqualifiquei, jamais encaminhei qualquer ação com objetivo de lhe causar danos de qualquer natureza. Todas as vezes em que conversamos, dentro e fora da UFMG, cumpri com minha obrigação elementar, enquanto humano (e certamente o Sr. é daqueles que duvidam da humanidade dos negros, dos pobres e outras minorias), de respeitar o outro.

Como tantos, escolhi o trabalho intelectual, desde o início da vida adulta, como "métier": penso, pesquiso, falo, escrevo, enfim, exponho-me. Evidente que esse tipo de trabalho, o conjunto de idéias que o caracteriza, freqüentemente desagrada a outras pessoas, grupos, facções, partidos, guetos, bairros, turminha da mônica e outras turmas, contraria seus princípios, sua etiqueta social etc. Entretanto, nada justifica o linchamento daquele que, com suas idéias, desagrada a qualquer grupo, o que significará sempre a velha e intolerável confusão de fronteiras que tantas tragédias já causaram à humanidade. Tive e tenho o direito a emitir as idéias que entendi e entendo que são mais plausíveis, direito que também lhe assiste, bem como a qualquer outro mortal. Neste momento em que o Sr., que tem idade suficiente para responder pelos seus atos, pavoneia-se debilmente com o meu nome, procurando, como outros, seus 15 minutos de fama (afinal, quem é o Sr.mesmo?), creio que esteja cônscio sobre as conseqüências de chutar um cachorro-não-morte, creio que conheça bem o ditado paranaense que Leminski gostava de recordar: quem come pedra, sabe...

Lúcio (sapateando cada vez mais, com as mãos na cintura): era só o que me faltava...Fala, minha cruz! Quem chamou você aqui nessa blognovela?

Cruz da Cruz e Sousa: Deixo bem claro, mais uma vez: não admito nem jamais admitirei que pessoas maledicentes, mesquinhas e autoritárias, em bom uso ou não de suas faculdades mentais, procedam a julgamento sumário da minha pessoa nem do empreendimento que, orgulhosamente, fundei há quase dez anos e é - para aumentar o ódio de figuras ridículas como o Sr., típicos remanenescentes do nosso nazionalismo merdavarelo - uma das referências de um tempo, de uma geração e de um lugar nos anos 90. Quanto a discutir meu ensaio "A Desarmonia da Harmonia" com o Sr., ensaio cuja importância o Sr. mesmo reconhece ao escrever todo um outro ensaio a respeito, considero uma proposta altamente indecente. Volto a lhe perguntar, com toda sinceridade: quem é o Sr. mesmo? Eu, como o Sr. bem sabe, sou A CRUZ DO CRUZ & SOUZA.

Lúcio (sentado, segurando o pé): Olha, eu não tenho nada a ver se o poeta do desterro foi recebido friamente. E você vem com essa velha frase: “Você sabe com quem está falando?” E que negócio é esse de nazionalismo. A Sra. Cruz é que ficou louca.

(Nesse momento, Lúcio observa que há outros bonecos, esses minúsculos, de sarapatetas pela sala. Mas primeiro, ele precisará resolver o problema da Cruz, que traz junto uma enxurrada de lama que ameaça encher a sala. Os bonecos dos sarapatetas flutuam juntamente com Rio Maynart, Laerte Braga, Contrera e Guzik, que gesticulam pedindo socorro).

3 comentários:

Rodrigo Contrera disse...

só para te dizer que to lendo tua blognovela e que começarei a folhear (!) o blog do john hemingway, que vc cita.
flw
contrera

Revistacidadesol disse...

O Guzik, que foi personagem dessa blognovela, faleceu sábado passado. Reedito em homenagem a ele. O blog dele:

http://os.dias.e.as.horas.zip.net/

era ótimo.

Revistacidadesol disse...

última postagem de um blogueiro morto:

neste amanhecer

neste deslumbrante amanhecer, em plena segunda-feira de carnaval, embarco em minha viagem rumo à travessia do rio letes e à descida para o hades. quando voltar, relatarei o que vi e vivi. o hades não é um reino fácil de se visitar. ninguém retorna de lá sem estar transformado. sei disso. e prometo partilhar com os leitores destes dias e destas horas aquilo que vou vivenciar. dionisos me acompanha na viagem, além de ótimos amigos e do amor de muita gente. evoé.