quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A Muchacha de Léon e o Ato Sexual do Monstro

A Muchacha de León e o Ato Sexual do Monstro

Ele sabia que aquilo a perturbava, mas se limitava a despir ao terno e dizer:
_Vai te fazer bem esquecer a você esquecer disso tudo, sorry, mi muchacha, yo soy un ombre sincero, o luar vai te fazer um bem...Vai ser muito melhor do que ler Althusser...Lendo este louco, você pode ficar achando que um dia vou chegar da rua e te estrangular, enquanto você assiste a novela das seis.
Che Guevara a espiava tirar a calcinha, o argentino ficava lá na parede de boca aberta, flácida, Che tudo olhava com os olhos fixos no infinito, era sempre assim, cósmico.
Isso enquanto seu marido murmurava docemente em sua orelha, mas mãos bobas buscando reentrâncias, ele torturava a carne da muchacha e ela estava impávida. Depois lhe arranhava as costas.
Daqui no passarán. Mas ele era um bruto, com os dedos ia avançando, seguia para o front, hay que endurecer pero sin perder la ternura, a baioneta, a trincheira, aquilo era a batalha do corpo a corpo, boca a boca. Cantando uma canción desesperada y otros poemas de amor.
Na manhã do dia seguinte, depois de fazer café, enquanto folheava na estante coisas cheias de letras como Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, O Capital, ela falava:
_O apartamento não tem espaço para essa coiseira toda, tem livro por tudo quanto é lado, mas a gente acabou de casar e o apartamento é muito apertado, é um ovinho.
Ela o olhava com hostilidade, como se fosse Paulo Francis _ isso de cheirar comunismo fazia mesmo mal _ e ainda citava Churchill cinicamente:
_Quem não é socialista aos vinte anos não tem coração, quem não é conservador aos quarenta anos não tem cabeça.
Ela o torturava com esta frase, sua carne era fustigável por palavras perfuro-cortantes. Ele retrucava com deixando fluir um falatório:
_Levantem-se, famélicos de todo o mundo, sassaricai agora como na hora da morte! Tesudos de todo mundo, uni-vos, nada tendes a perder, a não ser os seus culhôes, tesudos de todo mundo, sassaricai...
Tinha dia que ele danava a escrever uns textos descabelados assim para ela:
_O prazer orgástico de ouvir Guns and Roses em cristalino Compact Disc é destes da burguesia decadente e devassa, a reação entorpece com ópio. Oferecem cannabis sativa e tetas para os proletas. Os popstars niilistas são deuses para quem vocês fazem palhaçadas, seus ciberpanquis e neoripis de cabelos desgrenhados, vocês acham que Zaratustra falou e disse, né, bichos? Hein? Leram Paulo Coelho? Queriam fazer uma canção para fazer chorar de plástico enquanto dançam as bailarinas do Show da Morte, o Fantástico?
_Mas querido, isso é loucura, vê se pode!
Em resposta ao grito da moça, começou outro discurso:
_Estamos aqui conversando, mas ainda há pouco matavam iraquianos em nome de um aiatolá qualquer. Enquanto isso uma maluca está tramando uma nova religião, cujo primeira mandamento será: “ Enquanto não finda o mundo, transai altas loucuras”.

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